Por Rui G. Moura
[Tradução de parte da análise de Jean Martin]
Neve, gelo, tempestades: a realidade objectiva perante afirmações peremptórias…
Como se sabe, uma grande parte do Hemisfério Norte conheceu um Inverno particularmente rude, pelas suas temperaturas, pela sua duração e pela altura da neve acumulada nos solos.
Do mesmo modo, o Norte da Europa e, muito particularmente, a França conheceram tempestades assinaláveis. Os pseudo-climatologistas que afirmam sem cessar que a climatologia não é a meteorologia dizem que as vagas de frio não querem dizer nada.
Mas mesmo assim, devem ter tirado uma série de ensinamentos. Segundo eles, as vagas de frio demonstram a gravidade e a urgência do que chamam agora “a desordem climática” ou, melhor ainda, “o caos climático”.
Analisemos [seguem-se 4 pontos destacados da extensa análise feita por Jean Martin, que MC vai separar em vários posts extraindo o fundamental]:
1) Alguns afirmaram que este Inverno bastante fresco foi um indicador evidente da desaceleração do Gulf Stream, prevista pelos modelos – acrescentam eles. Demonstram assim uma quádrupla ignorância:
- Por um lado, as observações mais recentes efectuadas com auxílio dos dispositivos ARGO, publicadas em Fevereiro deste ano, mostram que o Gulf Stream não acelerou nem retardou.
Na realidade, o Gulf Stream comportou-se tão bem como a totalidade da Circulação Meridional Atlântica [ou Atlantic Meridional Overturning Circulation da qual faz parte o Gulf Stream].
- Por outro lado, foi uma grande parte do Hemisfério Norte que esteve sujeita a um Inverno particularmente rude. Estas vagas de frio repetiram-se como não se tinha registado há muito tempo.
As vagas de frio afectaram uma vasta porção do Hemisfério Norte indo do Norte da China a uma grande parcela dos Estados Unidos da América, passando pela Rússia e pelo Norte da Europa, embora com anomalias positivas como no Este do Canadá (Vancouver) e no Norte de África.
Deste modo, a Rússia parece ter conhecido o seu Inverno mais duro desde que existem registos. Enquanto isso, no Norte da China, na Europa e no Centro e no Sul dos EUA aconteceu o Inverno mais frio desde os anos 1970 ou mesmo desde o início dos anos 60.
- Não se percebe como é que o Gulf Stream que contorna as costas do Norte da Europa poderia influenciar o clima chinês… Além disso, o exame atento da Oscilação Árctica deste Inverno mostra uma correlação muito nítida entre as vagas de frio e as suas fases negativas.
Esta oscilação (AO ou NAO) é perfeitamente natural e bem conhecida dos meteorologistas. É um fenómeno perfeitamente identificado. Não existe nenhuma dúvida sobre o facto de que uma inversão do diferencial de pressões entre os Açores e o Norte da Islândia está ligada a vagas de frio como as que nos afectaram este Inverno.
- Por último, contrariamente à crença largamente difundida, não está cientificamente provado que o Gulf Stream tenha influência importante no clima do Norte da Europa. As discussões entre especialistas sobre o tema continuam em curso.
Texto original: http://mitos-climaticos.blogspot.com/2010/05/inverno-2009-2010-1.html
2) As estações de rádio e de televisão, alguns jornalistas que se ocupam da ciência, mesmo alguns cientistas afirmaram que este Inverno, particularmente abundante em neve, esteve totalmente de acordo com predições (cenários, previsões) de modelos climáticos que, de facto, previam o contrário.
Resumidamente, segundo eles, aquecimento global → mais evaporação dos oceanos, portanto, mais humidade e, consequentemente, mais neve no Inverno… Notemos que também se afirma, sem complexos, que o aquecimento global induz mais secas. O que está manifestamente em contradição com as observações.
Então o que se passou exactamente? Observou-se que o aquecimento global induziu “mais neve no Inverno”? O que, diga-se de passagem, é uma afirmação que entra directamente em contradição com as predições (cenários, previsões) do IPCC.
De facto, o IPCC anunciou (AR4-WGII) [quarto relatório de avaliação – grupo de trabalho II, 2007] que seria necessário encerrar as estâncias de esqui muito procuradas pelos nossos contemporâneos … por falta de neve (!).
Steve Goddard, autor convidado por Anthony Watts – o meteorologista de reconhecido mérito, autor do famoso blogue WUWT – teve a boa ideia de consultar as bases de dados da Rutgers University.
Esta base de dados é uma (se não a) base de dados de referência mundial sobre as camadas de neve depositadas nos solos. Vai daí, relativamente ao Inverno boreal, interessa-nos saber o que se passou no Hemisfério Norte.
Na Fig. JM1 estão registadas as superfícies da neve caída no solo (de Dezembro a Fevereiro) para o Hemisfério Norte em médias decenais a partir de 1967, de acordo com a base de dados da Universidade de Rutgers.
Esta base de dados indica-nos 4 Invernos com maior queda de neve, por ordem decrescente: 1978, 2010, 2008, 2003. A terceira semana de Fevereiro de 2010, com uma cobertura de 52 170 000 km2, foi a segunda na lista das 2229 semanas.
De notar que os anos 1967-1976 foram particularmente frios a ponto de terem suscitado a inquietude de algumas pessoas sobre a possível entrada numa nova pequena idade do gelo. Não foram apenas os jornalistas a inquietarem-se. Houve mais: Paul Ehrlich, Stephen Schneider e a Academia das Ciências dos EUA!
Ora, é actualmente difícil de entender os “cronistas” a recordar-nos sem cessar que o decénio que vivemos é o mais quente desde (a acreditar neles) … a noite dos tempos!
Como se pode verificar, os períodos onde a queda de neve foi mais marcada foram, simultaneamente, tanto os períodos mais frios (1967-1980) como os mais quentes (2001-2010).
Nestas condições, afirmar que o aquecimento global nos acarreta mais neve, ou nos priva dela, realça uma imaginação pura e simples e não uma observação objectiva. E as observações foram efectuadas durante um período de 33 anos. Ora, 33 anos são, ao que parece, um período que distingue a climatologia da meteorologia.
Ninguém pode prever o futuro pelo que as previsões de certas pessoas, que nos anunciam que “os nossos descendentes não saberão o que é a neve”, tal como as daquelas que nos anunciam que “vamos fritar como numa frigideira”, parecem-me mal feitas no dealbar do século XXI.
Por outro lado, os muito mal informados que assinam petições contra aqueles que duvidam e desejam saber mais acerca do aquecimento global “antropogénico”, dizem-nos [veja-se Michel Petit, um aquecimentista pretensioso]:
“Bem, outros indicadores, que não a temperatura média global, confirmam o aquecimento global: … (tais como) a diminuição da queda de neve no Hemisfério Norte”. Assim, segundo eles, a queda de neve teria diminuído no Hemisfério Norte?
Vamos analisar com dados oficiais [base de dados] que toda a gente pode consultar no sítio web da Rutgers University. Eis o gráfico integral traçado a partir dessa base de dados sem qualquer ajustamento: Fig. JM2.
Na Fig. JM2, indica-se: - A verde, a extensão total da superfície de neve caída no Hemisfério Norte entre 1967 e 2010 (Março incluído); - A azul, as variações; - Os dados são mensais. Verifica-se a existência de oscilações da superfície de neve caída no Hemisfério Norte entre os Invernos e os Verões sucessivos.
Mas onde está então “a diminuição da queda de neve no Hemisfério Norte” que seria, segundo o tal sítio web, uma das manifestações evidentes do aquecimento global antropogénico?
Francamente, a queda de neve global no Hemisfério Norte tem um aspecto bem uniforme, pelo menos desde 1967, não é verdade? (Nota: para confirmar, é bom seguir a marcação de uma linha horizontal para os máximos (Inverno) e de outra para os mínimos (Verão), com o auxílio de uma régua)
[Jean Martin termina o ponto 2 com o mito do aquecimento global de Vénus devido ao CO2. Al Gore, no livro de ficção científica “Uma verdade Inconveniente”, também afirma esta tolice a par de outras.]
Texto original: http://mitos-climaticos.blogspot.com/2010/05/inverno-2009-2010-2.html
3) O aumento da violência e da frequência das tempestades que se têm verificado, nomeadamente em França, seriam também, segundo alguns, a manifestação evidente do aquecimento global (subentendido “antropogénico”).
Citem-se Klaus e Xinthia como provas… Para ser justo, deve-se reconhecer que o AR4 [Quarto relatório de avaliação do IPCC] de 2007 (Resumo Técnico) está bem documentado a este propósito. E com razão.
Como já disse anteriormente, e contrariamente à leitura precedente, convém ser muito prudente com este género de afirmações. Se a memória humana é bastante curta, as observações (medições), elas, perduram…
Para recolocar as coisas num contexto histórico, recomendo a leitura do livro de Emmanuel Garnier, Les Dérangements du Temps : 500 ans de chaud et de froid en Europe, que mostra quantas muito graves intempéries (tempestades, inundações, etc.) afectaram frequentemente o nosso clima, e muito antes da era do petróleo.
Ou seja, segundo aqueles, resumidamente, “clima mais quente = tempestades mais frequentes e mais severas”. Será isto bem verdade? Nós somos como S. Tomás. Faltam-nos provas, medidas, artigos científicos, para nos fazer crer.
Então, vamos verificar se “clima mais quente = mais tempestades”, baseando-nos em artigos científicos publicados recentemente na literatura revista pelos pares. Estes artigos respeitam mais especificamente aos europeus visto que são as nossas tempestades que foram tomadas como exemplo.
[Segue-se a recensão de dois artigos. A do segundo será publicada no post seguinte.]
____________
O primeiro destes artigos foi publicado online no dia 23 de Fevereiro de 2008 no Quaternary International 195 (2009) 31-41. Intitula-se The impact of North Atlantic storminess on western European coasts:A review.
Trata-se de um artigo do género de compilação e recolha da literatura científica publicada sobre um tema específico. Os autores são Michèle L. Clarke et Helen M. Rendell. Os autores introduzem o seu trabalho da seguinte maneira:
A compreensão do comportamento da actividade tempestuosa do passado é particularmente importante no contexto da futura alteração climática antropogénica com as predições de um aumento da frequência das tempestades e da subida do nível dos mares no final deste século.
Como sempre, o resumo diz-nos tudo. Ei-lo no original:
Abstract
Instrumental and documentary records of storminess along the Atlantic coast of western Europe show that storm activity exhibits strong spatial and temporal variability at annual and decadal scales.
There is evidence of periods of increased storminess during the Little Ice Age (LIA) (AD 1570–1990), and archival records show that these periods are also associated with sand movement in coastal areas.
Independent evidence of sand movement during the LIA is derived from dating the coastal sand deposits, using luminescence or radiocarbon methods.
The Holocene record of sand drift in western Europe includes episodes corresponding to periods of Northern Hemisphere cooling, particularly at 8.2 ka, and provides the additional evidence that these periods, like the LIA, were also stormy.
A Fig. JM3 representa a carta apresentada com este artigo. Ela indica em traços negros espessos as zonas que foram estudadas pelos 16 artigos científicos indicados como referências. Verifica-se que as zonas costeiras essenciais estão implicadas nesta análise.
Note-se, de passagem, a astúcia (e a paciência) dos investigadores que estudaram meticulosamente o deslocamento da areia das dunas costeiras. É um proxy (um indicador) interessante. De facto, as dunas de areia das nossas costas têm efectivamente conservado a memória das tempestades do passado, até épocas muito recuadas.
As conclusões deste artigo de revista são muito claras:
Os períodos frios têm coincidido com a ocorrência de uma forte actividade tempestuosa. A Pequena Idade do Gelo teria mesmo conhecido um aumento das tempestades. Isto é, as observações mostram exactamente o contrário das afirmações que se ouvem e se lêem por todo o lado…
3) O aumento da violência e da frequência das tempestades que se têm verificado, nomeadamente em França, seriam também, segundo alguns, a manifestação evidente do aquecimento global (subentendido “antropogénico”).
(continuação do ponto 3)
Agora, e ainda no tema das tempestades, focalizemos a nossa atenção nas medições efectuadas na Suécia onde foram conservadas observações meteorológicas e medidas barométricas desde tempos recuados.
As referências do artigo recente que nos interessa são as seguintes:
Lars Bärring et Krzysztof Fortuniak, 2009. Multi-indices analysis of southern Scandinavian storminess 1780–2005 and links to interdecadal variations in the NW Europe–North Sea region. International Journal of Climatology, 29, 373-384.
Os autores apresentam a sua investigação da seguinte maneira: Several studies using reanalysis data covering the second half of the 20th century suggest increasing storm intensity in the northeastern Atlantic and European sector.
Ou seja, vários estudos da segunda metade do século XX sugerem um aumento da intensidade das depressões no Nordeste do Atlântico. Mais à frente, os autores explicam a sua metodologia:
The question is whether changes to such storminess characteristics are a result of changes in frequency and intensity of deep cyclones in exposed regions. The essential problem is thus if any changes to cyclone activity are within natural variability or not, that is, the classical problem of climate change detection. As intense cyclones and severe windstorms are comparatively rare events, long-term records are required to capture the natural variability.
Os autores do estudo pretenderam saber se as variações da actividade ciclónica (depressões) se deveram à variabilidade natural do clima ou não. Como as baixas pressões cavadas são relativamente raras, estudaram séries longas para captar a variabilidade natural.
Esta metodologia demonstra o bom senso que, infelizmente, é muitas vezes esquecido. Com efeito, ao se pretender atribuir fenómenos climáticos, como depressões, às alterações climáticas, deve-se saber, primeiro, qual é o comportamento natural deles.
Não há nada como analisar as observações do passado durante um período longo tanto mais que se tratam de fenómenos relativamente raros. Não nos devemos contentar com registos de curta duração (p.e., de 1950 até aos nossos dias, como fizeram os autores dos artigos citados e criticados por Bärring et Fortuniak).
A figura mestre deste artigo (a análise dos dados é bastante complexa) está reproduzida na Fig. JM4. Ela indica a frequência (ou/e a intensidade) das depressões de 1780 a 2005 segundo os arquivos conservados na Suécia, em Lund e em Estocolmo.
A escala vertical está graduada em unidades arbitrárias que representam a intensidade das depressões. Os valores positivos e os negativos indicam, respectivamente, mais e menos depressões. As curvas com menos “ruído” representam os valores médios.
Como se verifica, se remontarmos no tempo até finais do séc. XVIII, não se pode pretender que o período recente seja mais tempestuoso que o normal. De facto, se fosse necessário escolher, antes diríamos ser menos tempestuoso.
Agora, se consideramos na Fig. JM4 apenas a evolução a partir de 1950, como fazem os autores do artigo criticado por Bärring et Fortuniak, concluiríamos que a frequência/intensidade das depressões aumentou seriamente. Com este método [artificioso], fez-se soar o alarme com grande amplificação nos títulos garrafais dos jornais…
Bärring et Fortuniak concluem, muito justamente, com os dois pontos seguintes:
(1) There is no significant overall long-term trend common to all indices in cyclone activity in the North Atlantic and European region since the Dalton minimum (*).
(2) The marked positive trend beginning around 1960 ended in the mid-1990s and has since then reversed. This positive trend was more an effect of a 20th century minimum in cyclone activity around 1960, rather than extraordinary high values in 1990s.
Assim, não existe tendência de longo prazo de todos os índices das depressões no Atlântico Norte e na Europa desde o mínimo de Dalton. A tendência positiva que começou em 1960 terminou cerca de 1990.
Em resumo, o período actual não é diferente, do ponto de vista das depressões, dos de séculos precedentes. O aumento assinalado nos anos 90 cessou e inverteu-se. Tudo isto faz parte das flutuações naturais.
[Na realidade, as depressões atlânticas nos anos 80-90 aumentaram devido ao aumento da actividade dos anticiclones móveis polares que se verificou a partir do shift climático de 1975/76. Este facto está confirmado na Fig. JM4.]
É uma pena para os alarmistas, mas será necessário que eles encontrem outro argumento…
__________
(*) O Minimum de Dalton foi um período de fraca actividade solar que se situou, aproximadamente, entre 1790 e 1830.
Texto original: http://mitos-climaticos.blogspot.com/2010/05/inverno-2009-2010-4.html
4) Em que estado se encontram as extensões de gelo nos dois Pólos?
Como é sabido, são muito numerosos os que anunciam que o Pólo Norte estaria muito próximo de ficar liberto de gelo. Instituições, como a NASA e bastantes outras, têm avançado prazos variando entre alguns anos e algumas décadas.
Vários governos do planeta, muito confiantes nestas predições (previsões, cenários), nomearam até “embaixadores dos Pólos”. Foram encarregados de discutir com representantes de outros países a propriedade de diferentes porções do Oceano Árctico.
O Árctico, tornado liberto de gelo, constituiria uma enorme reserva, tornada acessível, de petróleo e de gás… O embaixador dos Pólos francês é o sr. Michel Rocard [Primeiro Ministro de França entre 1988 e 1991].
[…] O que foi notável no comportamento primaveril [de 2010] do gelo do mar árctico foi a sua relutância em começar a fundir-se, como faz normalmente a partir do início do mês de Março. [Jean Martin apresenta uma curva semelhante à Fig. 197].
Foi necessário esperar praticamente um mês (até 31 de Março) para que se decidisse a fazê-lo. Durante aquele período assistimos a um aumento da superfície do gelo em vez de uma diminuição.
Se a extensão do mar gelado não atingiu a média dos anos 1979-2000, aproximou-se bastante. Eis que, este facto, não pressagia uma fusão acelerada todavia prevista, por certas pessoas, para um Verão próximo.
De notar que se tratou da fusão mais tardia que se conhece desde que se iniciaram as observações [por satélites] em 1979, segundo o NSIDC – National Snow and Ice Data Center.
Ninguém previu este comportamento tranquilizante e inabitual. E, como usualmente, nenhum dos nossos grandes media, nenhum órgão de imprensa – sempre prontos a anunciar (ou mesmo a antecipar) as más notícias – deu esta boa nova:
A superfície do mar gelado árctico quase que atingiu a média de 1979-2000! E começou a fundir apenas com quase um mês de atraso. Jean-Louis Etienne talvez tenha visto através do nevoeiro, do alto do seu balão, uma extensão imensa de gelo…
Encontra-se no blogue de Anthony Watts um estudo comparativo bastante minucioso entre dados de diferentes instituições (NANSEN Roos, etc.) que apresentaram resultados ligeiramente diferentes para os dias 6 e 7 de Abril… Mas tratou-se talvez de uma matéria de reactualização de dados [ironia de JeanMartin].
Contudo, o comportamento do mar gelado no ano anterior já anunciava uma boa evolução. A Fig. JM5 corresponde aproximadamente à mesma época, de há quase um ano, isto é, finais de Abril de 2009.
Manifestamente, a fusão do gelo na Primavera de 2009 era já nitidamente menos rápida do que a de 2007 e mesmo menos rápida do que a média 1979-2000. No ano passado, a extensão de gelo, ainda que em período de fusão, quase atingiu a normal 1979-2000 no final do mês de Abril.
Com efeito, a fusão do gelo no Verão de 2009 foi menos pronunciada do que a de 2008 que, por sua vez, fora menos pronunciada que a de 2007. O que não impediu um determinado órgão de comunicação social (Libération) de nos anunciar, em Setembro de 2009, (sem mostrar as curvas necessárias), que a fusão do Árctico acelerou!
Entretanto, do outro lado do planeta, o Pólo Sul estava no Verão austral. A Fig. JM6 mostra a evolução da extensão do mar gelado antárctico que rodeia o vasto continente, segundo o NSIDC.
Como se verifica, o ano de 2009 conheceu uma extensão de gelo superior à média. Aconteceu o mesmo nalguns anos precedentes. Dito de outra maneira, enquanto que o mar árctico estava no seu mínimo [minimorum] de extensão em Setembro de 2007 o mar gelado antárctico estava próximo do seu máximo [maximorum] de extensão, bem superior à média de 1979-2000.
Relativamente ao Verão-Outono austral, Janeiro-Abril 2010, como se pode ver na Fig. JM6, durante a fusão e durante o reenchimento do gelo verificou-se uma evolução seguindo, praticamente, a média. Ou seja, nada de alarmante neste lado [do planeta].
Possivelmente, estamos a assistir ao fenómeno bem conhecido dos glaciólogos-geólogos, mas inexplicável (salvo, talvez, para [o cosmoclimatologista] Svensmark), do designado “polar sea-saw”: báscula polar que faz com que quando um Pólo aquece o outro arrefece, de modo periódico…
[Esta báscula] corresponde à ideia, muito contestada, de que a superfície do mar gelado estaria correlacionada com as variações de temperatura do ar e não, como muitos pensam agora (como Vicky Pope [do MetOffice]), com as oscilações oceânicas.
É também muito provável que o reforço muito particular do mar gelado árctico esteja ligado à fase negativa da AMO – Atlantic Multidecadal Oscillation como acontece actualmente… (*)
Mas tudo isto é muito complexo porque se sabe que a extensão do gelo depende dos ventos dominantes [ar de retorno quente/menos frio da circulação geral da atmosfera] que, por sua vez dependem das oscilações oceânicas, das correntes marítimas, etc. (*)
Resumidamente, estamos ainda longe de compreender tudo … mas os modeladores têm a faca e o queijo na mão [ao dispor do poder de (des)informar a opinião pública], como dizem certas pessoas.
Entretanto, os ursos brancos andam moralizados...
____________
(*) A troca entre causa (situação do Árctico ou do Antárctico) e efeito (fases dos índices meteorológicos como a AMO, a NAO, a ENSO, etc.) é típica de uma das escolas tradicionais baseada nas estatísticas.
posted by Rui G. Moura at 11:36
Texto original: http://mitos-climaticos.blogspot.com/2010/05/inverno-2009-2010-5.html
[Tradução de parte da análise de Jean Martin]
Neve, gelo, tempestades: a realidade objectiva perante afirmações peremptórias…
Como se sabe, uma grande parte do Hemisfério Norte conheceu um Inverno particularmente rude, pelas suas temperaturas, pela sua duração e pela altura da neve acumulada nos solos.
Do mesmo modo, o Norte da Europa e, muito particularmente, a França conheceram tempestades assinaláveis. Os pseudo-climatologistas que afirmam sem cessar que a climatologia não é a meteorologia dizem que as vagas de frio não querem dizer nada.
Mas mesmo assim, devem ter tirado uma série de ensinamentos. Segundo eles, as vagas de frio demonstram a gravidade e a urgência do que chamam agora “a desordem climática” ou, melhor ainda, “o caos climático”.
Analisemos [seguem-se 4 pontos destacados da extensa análise feita por Jean Martin, que MC vai separar em vários posts extraindo o fundamental]:
1) Alguns afirmaram que este Inverno bastante fresco foi um indicador evidente da desaceleração do Gulf Stream, prevista pelos modelos – acrescentam eles. Demonstram assim uma quádrupla ignorância:
- Por um lado, as observações mais recentes efectuadas com auxílio dos dispositivos ARGO, publicadas em Fevereiro deste ano, mostram que o Gulf Stream não acelerou nem retardou.
Na realidade, o Gulf Stream comportou-se tão bem como a totalidade da Circulação Meridional Atlântica [ou Atlantic Meridional Overturning Circulation da qual faz parte o Gulf Stream].
- Por outro lado, foi uma grande parte do Hemisfério Norte que esteve sujeita a um Inverno particularmente rude. Estas vagas de frio repetiram-se como não se tinha registado há muito tempo.
As vagas de frio afectaram uma vasta porção do Hemisfério Norte indo do Norte da China a uma grande parcela dos Estados Unidos da América, passando pela Rússia e pelo Norte da Europa, embora com anomalias positivas como no Este do Canadá (Vancouver) e no Norte de África.
Deste modo, a Rússia parece ter conhecido o seu Inverno mais duro desde que existem registos. Enquanto isso, no Norte da China, na Europa e no Centro e no Sul dos EUA aconteceu o Inverno mais frio desde os anos 1970 ou mesmo desde o início dos anos 60.
- Não se percebe como é que o Gulf Stream que contorna as costas do Norte da Europa poderia influenciar o clima chinês… Além disso, o exame atento da Oscilação Árctica deste Inverno mostra uma correlação muito nítida entre as vagas de frio e as suas fases negativas.
Esta oscilação (AO ou NAO) é perfeitamente natural e bem conhecida dos meteorologistas. É um fenómeno perfeitamente identificado. Não existe nenhuma dúvida sobre o facto de que uma inversão do diferencial de pressões entre os Açores e o Norte da Islândia está ligada a vagas de frio como as que nos afectaram este Inverno.
- Por último, contrariamente à crença largamente difundida, não está cientificamente provado que o Gulf Stream tenha influência importante no clima do Norte da Europa. As discussões entre especialistas sobre o tema continuam em curso.
Texto original: http://mitos-climaticos.blogspot.com/2010/05/inverno-2009-2010-1.html
2) As estações de rádio e de televisão, alguns jornalistas que se ocupam da ciência, mesmo alguns cientistas afirmaram que este Inverno, particularmente abundante em neve, esteve totalmente de acordo com predições (cenários, previsões) de modelos climáticos que, de facto, previam o contrário.
Resumidamente, segundo eles, aquecimento global → mais evaporação dos oceanos, portanto, mais humidade e, consequentemente, mais neve no Inverno… Notemos que também se afirma, sem complexos, que o aquecimento global induz mais secas. O que está manifestamente em contradição com as observações.
Então o que se passou exactamente? Observou-se que o aquecimento global induziu “mais neve no Inverno”? O que, diga-se de passagem, é uma afirmação que entra directamente em contradição com as predições (cenários, previsões) do IPCC.
De facto, o IPCC anunciou (AR4-WGII) [quarto relatório de avaliação – grupo de trabalho II, 2007] que seria necessário encerrar as estâncias de esqui muito procuradas pelos nossos contemporâneos … por falta de neve (!).
Steve Goddard, autor convidado por Anthony Watts – o meteorologista de reconhecido mérito, autor do famoso blogue WUWT – teve a boa ideia de consultar as bases de dados da Rutgers University.
Esta base de dados é uma (se não a) base de dados de referência mundial sobre as camadas de neve depositadas nos solos. Vai daí, relativamente ao Inverno boreal, interessa-nos saber o que se passou no Hemisfério Norte.
Na Fig. JM1 estão registadas as superfícies da neve caída no solo (de Dezembro a Fevereiro) para o Hemisfério Norte em médias decenais a partir de 1967, de acordo com a base de dados da Universidade de Rutgers.
Esta base de dados indica-nos 4 Invernos com maior queda de neve, por ordem decrescente: 1978, 2010, 2008, 2003. A terceira semana de Fevereiro de 2010, com uma cobertura de 52 170 000 km2, foi a segunda na lista das 2229 semanas.
De notar que os anos 1967-1976 foram particularmente frios a ponto de terem suscitado a inquietude de algumas pessoas sobre a possível entrada numa nova pequena idade do gelo. Não foram apenas os jornalistas a inquietarem-se. Houve mais: Paul Ehrlich, Stephen Schneider e a Academia das Ciências dos EUA!
Ora, é actualmente difícil de entender os “cronistas” a recordar-nos sem cessar que o decénio que vivemos é o mais quente desde (a acreditar neles) … a noite dos tempos!
Como se pode verificar, os períodos onde a queda de neve foi mais marcada foram, simultaneamente, tanto os períodos mais frios (1967-1980) como os mais quentes (2001-2010).
Nestas condições, afirmar que o aquecimento global nos acarreta mais neve, ou nos priva dela, realça uma imaginação pura e simples e não uma observação objectiva. E as observações foram efectuadas durante um período de 33 anos. Ora, 33 anos são, ao que parece, um período que distingue a climatologia da meteorologia.
Ninguém pode prever o futuro pelo que as previsões de certas pessoas, que nos anunciam que “os nossos descendentes não saberão o que é a neve”, tal como as daquelas que nos anunciam que “vamos fritar como numa frigideira”, parecem-me mal feitas no dealbar do século XXI.
Por outro lado, os muito mal informados que assinam petições contra aqueles que duvidam e desejam saber mais acerca do aquecimento global “antropogénico”, dizem-nos [veja-se Michel Petit, um aquecimentista pretensioso]:
“Bem, outros indicadores, que não a temperatura média global, confirmam o aquecimento global: … (tais como) a diminuição da queda de neve no Hemisfério Norte”. Assim, segundo eles, a queda de neve teria diminuído no Hemisfério Norte?
Vamos analisar com dados oficiais [base de dados] que toda a gente pode consultar no sítio web da Rutgers University. Eis o gráfico integral traçado a partir dessa base de dados sem qualquer ajustamento: Fig. JM2.
Na Fig. JM2, indica-se: - A verde, a extensão total da superfície de neve caída no Hemisfério Norte entre 1967 e 2010 (Março incluído); - A azul, as variações; - Os dados são mensais. Verifica-se a existência de oscilações da superfície de neve caída no Hemisfério Norte entre os Invernos e os Verões sucessivos.
Mas onde está então “a diminuição da queda de neve no Hemisfério Norte” que seria, segundo o tal sítio web, uma das manifestações evidentes do aquecimento global antropogénico?
Francamente, a queda de neve global no Hemisfério Norte tem um aspecto bem uniforme, pelo menos desde 1967, não é verdade? (Nota: para confirmar, é bom seguir a marcação de uma linha horizontal para os máximos (Inverno) e de outra para os mínimos (Verão), com o auxílio de uma régua)
[Jean Martin termina o ponto 2 com o mito do aquecimento global de Vénus devido ao CO2. Al Gore, no livro de ficção científica “Uma verdade Inconveniente”, também afirma esta tolice a par de outras.]
Texto original: http://mitos-climaticos.blogspot.com/2010/05/inverno-2009-2010-2.html
3) O aumento da violência e da frequência das tempestades que se têm verificado, nomeadamente em França, seriam também, segundo alguns, a manifestação evidente do aquecimento global (subentendido “antropogénico”).
Citem-se Klaus e Xinthia como provas… Para ser justo, deve-se reconhecer que o AR4 [Quarto relatório de avaliação do IPCC] de 2007 (Resumo Técnico) está bem documentado a este propósito. E com razão.
Como já disse anteriormente, e contrariamente à leitura precedente, convém ser muito prudente com este género de afirmações. Se a memória humana é bastante curta, as observações (medições), elas, perduram…
Para recolocar as coisas num contexto histórico, recomendo a leitura do livro de Emmanuel Garnier, Les Dérangements du Temps : 500 ans de chaud et de froid en Europe, que mostra quantas muito graves intempéries (tempestades, inundações, etc.) afectaram frequentemente o nosso clima, e muito antes da era do petróleo.
Ou seja, segundo aqueles, resumidamente, “clima mais quente = tempestades mais frequentes e mais severas”. Será isto bem verdade? Nós somos como S. Tomás. Faltam-nos provas, medidas, artigos científicos, para nos fazer crer.
Então, vamos verificar se “clima mais quente = mais tempestades”, baseando-nos em artigos científicos publicados recentemente na literatura revista pelos pares. Estes artigos respeitam mais especificamente aos europeus visto que são as nossas tempestades que foram tomadas como exemplo.
[Segue-se a recensão de dois artigos. A do segundo será publicada no post seguinte.]
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O primeiro destes artigos foi publicado online no dia 23 de Fevereiro de 2008 no Quaternary International 195 (2009) 31-41. Intitula-se The impact of North Atlantic storminess on western European coasts:A review.
Trata-se de um artigo do género de compilação e recolha da literatura científica publicada sobre um tema específico. Os autores são Michèle L. Clarke et Helen M. Rendell. Os autores introduzem o seu trabalho da seguinte maneira:
A compreensão do comportamento da actividade tempestuosa do passado é particularmente importante no contexto da futura alteração climática antropogénica com as predições de um aumento da frequência das tempestades e da subida do nível dos mares no final deste século.
Como sempre, o resumo diz-nos tudo. Ei-lo no original:
Abstract
Instrumental and documentary records of storminess along the Atlantic coast of western Europe show that storm activity exhibits strong spatial and temporal variability at annual and decadal scales.
There is evidence of periods of increased storminess during the Little Ice Age (LIA) (AD 1570–1990), and archival records show that these periods are also associated with sand movement in coastal areas.
Independent evidence of sand movement during the LIA is derived from dating the coastal sand deposits, using luminescence or radiocarbon methods.
The Holocene record of sand drift in western Europe includes episodes corresponding to periods of Northern Hemisphere cooling, particularly at 8.2 ka, and provides the additional evidence that these periods, like the LIA, were also stormy.
A Fig. JM3 representa a carta apresentada com este artigo. Ela indica em traços negros espessos as zonas que foram estudadas pelos 16 artigos científicos indicados como referências. Verifica-se que as zonas costeiras essenciais estão implicadas nesta análise.
Note-se, de passagem, a astúcia (e a paciência) dos investigadores que estudaram meticulosamente o deslocamento da areia das dunas costeiras. É um proxy (um indicador) interessante. De facto, as dunas de areia das nossas costas têm efectivamente conservado a memória das tempestades do passado, até épocas muito recuadas.
As conclusões deste artigo de revista são muito claras:
Os períodos frios têm coincidido com a ocorrência de uma forte actividade tempestuosa. A Pequena Idade do Gelo teria mesmo conhecido um aumento das tempestades. Isto é, as observações mostram exactamente o contrário das afirmações que se ouvem e se lêem por todo o lado…
3) O aumento da violência e da frequência das tempestades que se têm verificado, nomeadamente em França, seriam também, segundo alguns, a manifestação evidente do aquecimento global (subentendido “antropogénico”).
(continuação do ponto 3)
Agora, e ainda no tema das tempestades, focalizemos a nossa atenção nas medições efectuadas na Suécia onde foram conservadas observações meteorológicas e medidas barométricas desde tempos recuados.
As referências do artigo recente que nos interessa são as seguintes:
Lars Bärring et Krzysztof Fortuniak, 2009. Multi-indices analysis of southern Scandinavian storminess 1780–2005 and links to interdecadal variations in the NW Europe–North Sea region. International Journal of Climatology, 29, 373-384.
Os autores apresentam a sua investigação da seguinte maneira: Several studies using reanalysis data covering the second half of the 20th century suggest increasing storm intensity in the northeastern Atlantic and European sector.
Ou seja, vários estudos da segunda metade do século XX sugerem um aumento da intensidade das depressões no Nordeste do Atlântico. Mais à frente, os autores explicam a sua metodologia:
The question is whether changes to such storminess characteristics are a result of changes in frequency and intensity of deep cyclones in exposed regions. The essential problem is thus if any changes to cyclone activity are within natural variability or not, that is, the classical problem of climate change detection. As intense cyclones and severe windstorms are comparatively rare events, long-term records are required to capture the natural variability.
Os autores do estudo pretenderam saber se as variações da actividade ciclónica (depressões) se deveram à variabilidade natural do clima ou não. Como as baixas pressões cavadas são relativamente raras, estudaram séries longas para captar a variabilidade natural.
Esta metodologia demonstra o bom senso que, infelizmente, é muitas vezes esquecido. Com efeito, ao se pretender atribuir fenómenos climáticos, como depressões, às alterações climáticas, deve-se saber, primeiro, qual é o comportamento natural deles.
Não há nada como analisar as observações do passado durante um período longo tanto mais que se tratam de fenómenos relativamente raros. Não nos devemos contentar com registos de curta duração (p.e., de 1950 até aos nossos dias, como fizeram os autores dos artigos citados e criticados por Bärring et Fortuniak).
A figura mestre deste artigo (a análise dos dados é bastante complexa) está reproduzida na Fig. JM4. Ela indica a frequência (ou/e a intensidade) das depressões de 1780 a 2005 segundo os arquivos conservados na Suécia, em Lund e em Estocolmo.
A escala vertical está graduada em unidades arbitrárias que representam a intensidade das depressões. Os valores positivos e os negativos indicam, respectivamente, mais e menos depressões. As curvas com menos “ruído” representam os valores médios.
Como se verifica, se remontarmos no tempo até finais do séc. XVIII, não se pode pretender que o período recente seja mais tempestuoso que o normal. De facto, se fosse necessário escolher, antes diríamos ser menos tempestuoso.
Agora, se consideramos na Fig. JM4 apenas a evolução a partir de 1950, como fazem os autores do artigo criticado por Bärring et Fortuniak, concluiríamos que a frequência/intensidade das depressões aumentou seriamente. Com este método [artificioso], fez-se soar o alarme com grande amplificação nos títulos garrafais dos jornais…
Bärring et Fortuniak concluem, muito justamente, com os dois pontos seguintes:
(1) There is no significant overall long-term trend common to all indices in cyclone activity in the North Atlantic and European region since the Dalton minimum (*).
(2) The marked positive trend beginning around 1960 ended in the mid-1990s and has since then reversed. This positive trend was more an effect of a 20th century minimum in cyclone activity around 1960, rather than extraordinary high values in 1990s.
Assim, não existe tendência de longo prazo de todos os índices das depressões no Atlântico Norte e na Europa desde o mínimo de Dalton. A tendência positiva que começou em 1960 terminou cerca de 1990.
Em resumo, o período actual não é diferente, do ponto de vista das depressões, dos de séculos precedentes. O aumento assinalado nos anos 90 cessou e inverteu-se. Tudo isto faz parte das flutuações naturais.
[Na realidade, as depressões atlânticas nos anos 80-90 aumentaram devido ao aumento da actividade dos anticiclones móveis polares que se verificou a partir do shift climático de 1975/76. Este facto está confirmado na Fig. JM4.]
É uma pena para os alarmistas, mas será necessário que eles encontrem outro argumento…
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(*) O Minimum de Dalton foi um período de fraca actividade solar que se situou, aproximadamente, entre 1790 e 1830.
Texto original: http://mitos-climaticos.blogspot.com/2010/05/inverno-2009-2010-4.html
4) Em que estado se encontram as extensões de gelo nos dois Pólos?
Como é sabido, são muito numerosos os que anunciam que o Pólo Norte estaria muito próximo de ficar liberto de gelo. Instituições, como a NASA e bastantes outras, têm avançado prazos variando entre alguns anos e algumas décadas.
Vários governos do planeta, muito confiantes nestas predições (previsões, cenários), nomearam até “embaixadores dos Pólos”. Foram encarregados de discutir com representantes de outros países a propriedade de diferentes porções do Oceano Árctico.
O Árctico, tornado liberto de gelo, constituiria uma enorme reserva, tornada acessível, de petróleo e de gás… O embaixador dos Pólos francês é o sr. Michel Rocard [Primeiro Ministro de França entre 1988 e 1991].
[…] O que foi notável no comportamento primaveril [de 2010] do gelo do mar árctico foi a sua relutância em começar a fundir-se, como faz normalmente a partir do início do mês de Março. [Jean Martin apresenta uma curva semelhante à Fig. 197].
Foi necessário esperar praticamente um mês (até 31 de Março) para que se decidisse a fazê-lo. Durante aquele período assistimos a um aumento da superfície do gelo em vez de uma diminuição.
Se a extensão do mar gelado não atingiu a média dos anos 1979-2000, aproximou-se bastante. Eis que, este facto, não pressagia uma fusão acelerada todavia prevista, por certas pessoas, para um Verão próximo.
De notar que se tratou da fusão mais tardia que se conhece desde que se iniciaram as observações [por satélites] em 1979, segundo o NSIDC – National Snow and Ice Data Center.
Ninguém previu este comportamento tranquilizante e inabitual. E, como usualmente, nenhum dos nossos grandes media, nenhum órgão de imprensa – sempre prontos a anunciar (ou mesmo a antecipar) as más notícias – deu esta boa nova:
A superfície do mar gelado árctico quase que atingiu a média de 1979-2000! E começou a fundir apenas com quase um mês de atraso. Jean-Louis Etienne talvez tenha visto através do nevoeiro, do alto do seu balão, uma extensão imensa de gelo…
Encontra-se no blogue de Anthony Watts um estudo comparativo bastante minucioso entre dados de diferentes instituições (NANSEN Roos, etc.) que apresentaram resultados ligeiramente diferentes para os dias 6 e 7 de Abril… Mas tratou-se talvez de uma matéria de reactualização de dados [ironia de JeanMartin].
Contudo, o comportamento do mar gelado no ano anterior já anunciava uma boa evolução. A Fig. JM5 corresponde aproximadamente à mesma época, de há quase um ano, isto é, finais de Abril de 2009.
Manifestamente, a fusão do gelo na Primavera de 2009 era já nitidamente menos rápida do que a de 2007 e mesmo menos rápida do que a média 1979-2000. No ano passado, a extensão de gelo, ainda que em período de fusão, quase atingiu a normal 1979-2000 no final do mês de Abril.
Com efeito, a fusão do gelo no Verão de 2009 foi menos pronunciada do que a de 2008 que, por sua vez, fora menos pronunciada que a de 2007. O que não impediu um determinado órgão de comunicação social (Libération) de nos anunciar, em Setembro de 2009, (sem mostrar as curvas necessárias), que a fusão do Árctico acelerou!
Entretanto, do outro lado do planeta, o Pólo Sul estava no Verão austral. A Fig. JM6 mostra a evolução da extensão do mar gelado antárctico que rodeia o vasto continente, segundo o NSIDC.
Como se verifica, o ano de 2009 conheceu uma extensão de gelo superior à média. Aconteceu o mesmo nalguns anos precedentes. Dito de outra maneira, enquanto que o mar árctico estava no seu mínimo [minimorum] de extensão em Setembro de 2007 o mar gelado antárctico estava próximo do seu máximo [maximorum] de extensão, bem superior à média de 1979-2000.
Relativamente ao Verão-Outono austral, Janeiro-Abril 2010, como se pode ver na Fig. JM6, durante a fusão e durante o reenchimento do gelo verificou-se uma evolução seguindo, praticamente, a média. Ou seja, nada de alarmante neste lado [do planeta].
Possivelmente, estamos a assistir ao fenómeno bem conhecido dos glaciólogos-geólogos, mas inexplicável (salvo, talvez, para [o cosmoclimatologista] Svensmark), do designado “polar sea-saw”: báscula polar que faz com que quando um Pólo aquece o outro arrefece, de modo periódico…
[Esta báscula] corresponde à ideia, muito contestada, de que a superfície do mar gelado estaria correlacionada com as variações de temperatura do ar e não, como muitos pensam agora (como Vicky Pope [do MetOffice]), com as oscilações oceânicas.
É também muito provável que o reforço muito particular do mar gelado árctico esteja ligado à fase negativa da AMO – Atlantic Multidecadal Oscillation como acontece actualmente… (*)
Mas tudo isto é muito complexo porque se sabe que a extensão do gelo depende dos ventos dominantes [ar de retorno quente/menos frio da circulação geral da atmosfera] que, por sua vez dependem das oscilações oceânicas, das correntes marítimas, etc. (*)
Resumidamente, estamos ainda longe de compreender tudo … mas os modeladores têm a faca e o queijo na mão [ao dispor do poder de (des)informar a opinião pública], como dizem certas pessoas.
Entretanto, os ursos brancos andam moralizados...
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(*) A troca entre causa (situação do Árctico ou do Antárctico) e efeito (fases dos índices meteorológicos como a AMO, a NAO, a ENSO, etc.) é típica de uma das escolas tradicionais baseada nas estatísticas.
posted by Rui G. Moura at 11:36
Texto original: http://mitos-climaticos.blogspot.com/2010/05/inverno-2009-2010-5.html
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