Algumas notas sobre mudança climática


Com a ocorrência da Conferência sobre o Clima de Copenhagen, é apropriado esclarecer mais uma vez quais coisas já se sabem com certa precisão sobre o clima de nosso planeta mudanças climáticas.
Obviamente, um texto breve não pode substituir estudos detalhados de profissionais em várias disciplinas científicas — climatologia, física atmosférica, química, geologia, astronomia, e economia. No entanto, pode resumir as teses básicas das principais tendências na evolução do clima, nas previsões, e nos seus efeitos reais e projetados.

1. O clima da Terra está em constante mudança. O clima mudou no passado, está mudando agora, e, obviamente, mudará no futuro — contanto que nosso planeta ainda exista.

2. Mudanças climáticas têm em geral natureza cíclica. Há vários horizontes de tempo para os ciclos climáticos — do ciclo anual conhecido por todos a ciclos de 65-70 anos, de 1.300 anos, e de 100.000 anos (os chamados ciclos de Milankovitch).

3. Não há nenhum desacordo fundamental entre cientistas, figuras públicas e governos sobre o fato de que o clima está mudando. Há um largo consenso sobre o clima mudar constantemente. O mito criado por alarmistas do clima de que seus oponentes negam a mudança climática é mera propaganda política.

4. O atual debate entre climatologistas, economistas e figuras públicas não é sobre o fato de que o clima está mudando, mas outras questões. Em particular, desacordos existem sobre:
- os níveis comparativos das temperaturas dos dias de hoje (relativamente às historicamente observadas);
- a direção da mudança climática, dependendo do tamanho do registro;
- a extensão da mudança climática;
- a taxa da mudança climática;
- as causas da mudança climática;
- as previsões de mudança climática;
- as consequências da mudança climática;
- a melhor estratégia para que os seres humanos reajam à mudança climática.

5. Respostas imparciais a muitas dessas questões dependem crucialmente do horizonte de tempo escolhido — se é de 10 anos, 30 anos, 70, 1000 anos, 10.000 anos, ou centenas de milhares ou milhões de anos. Dependendo do horizonte de tempo, as respostas a muitas dessas perguntas podem ser diferentes, até opostas.

6. O atual nível de temperatura global, em perspectiva histórica, não é inédito. A temperatura média da Terra é hoje estimada em cerca de 14,5º Celsius. Na história de nosso planeta, houve poucos períodos em que a temperatura da Terra foi mais baixa do que hoje — no início do período Permiano, no Oligoceno, e durante as glaciações periódicas do Pleistoceno. Pela maior parte dos últimos 500.000 anos, a temperatura do ar na superfície da Terra excedeu em muito a atual, e por cerca de metade desse período esteve em aproximadamente 25ºC graus, dez a mais do que a temperatura atual. Glaciações regulares de períodos frios durante o Pleistoceno duraram aproximadamente 900.000 anos, com uma temperatura mínima cerca de cinco graus abaixo da presente, alternando-se com períodos interglaciais quentes (por 4.000-6.000 anos) com temperaturas 1-3ºC mais altas do que as atuais. Aproximadamente 11.000 anos atrás, o último aumento significativo na temperatura (de aproximadamente 5ºC) começou, e nesse período uma enorme geleira, que cobria uma parte considerável da Eurásia e da América, havia derretido. O aquecimento global teve um papel-chave na aquisição pela humanidade dos segredos da agricultura e na transição para a civilização. Ao longo dos últimos 11.000 anos, houve pelo menos cinco períodos quentes distintos, os chamados "ótimos climáticos", durante os quais a temperatura do planeta esteve 1-3ºC mais alta do que atualmente.

7. O foco da mudança climática depende crucialmente da escolha do horizonte de tempo. Nos último 11 anos (1998-2009), a temperatura global manteve-se estável. Antes disso, nos 20 anos precedentes (1979-1998), aumentou em cerca de 0,3ºC. Antes disso, durante os 35 anos precedentes (1940-1976), a temperatura caiu em cerca de 0,1ºC. Antes disso, nos dois séculos anteriores (1740-1940), a tendêncial geral na temperatura global foi basicamente neutra — com aquecimentos periódicos, seguidos por resfriamentos, e então novamente aquecimentos. Ao longo dos últimos três séculos (desde a virada do século XVIII), a temperatura do Hemisfério Norte aumentou em cerca de aproximadamente 1,3ºC, do vale da Pequena Idade do Gelo nos anos 1500-1740, seguida do ótimo climático contemporâneo, que começou em cerca de 1980. Durante os três séculos que precederam a Pequena Idade do Gelo, a temperatura no hemisfério Norte estava caindo comparada ao seu nível durante o ótimo climático medieval, nos séculos VIII-XIII. Dependendo da janela de tempo escolhida, a tendência de longo prazo da temperatura tem uma trajetória diferente. Em períodos dos últimos 2.000 anos, dos últimos 4.000 anos, e dos últimos 8.000, a tendência foi negativa. Em períodos dos últimos 1.300 anos, dos últimos 5.000 anos, e dos últimos 9.000 anos, foi positiva.

8. A taxa da mudança climática contemporânea é muito mais modesta em comparação com a taxa das mudanças climáticas observadas anteriormente na história do planeta. O Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC) descreve o aumento de 0,76ºC na temperatura global no último século (1906-2005) como extraordinário. Há motivos para suspeitar que esse valor de temperatura está um tanto exagerado. No entanto, o principal ponto é que aumentos anteriores na temperatura foram maiores do que os da era moderna. Dados comparáveis mostram que o aumento na temperatura, por exemplo, na Inglaterra Central no século XVIII (em cerca de 0,97ºC) foi mais significativo do que no século XX (por 0,90ºC). As mudanças climáticas na Groenlândia Central nos últimos 50.000 anos mostram que houve pelo menos uma dúzia de períodos nos quais a temperatura regional aumentou em 10-13ºC. Dada a correlação entre mudanças na temperatura em altas latitudes e globais, essas mudanças no regime de temperatura na Groenlândia significaram um aumento na temperatura global de 4-6ºC. Essa taxa foi aproximadamente cinco a sete vezes maior do que o real (e talvez um pouco exagerado) aumento de temperatura no século XX.

9. A taxa de atual mudança climática (a velocidade do aquecimento moderno) não é, por padrões históricos, inédita. Segundo dados do IPCC, a taxa de aumento da temperatura nos últimos 50 anos foi de 0,13ºC por década. Segundo dados comparáveis, obtidos por medidas instrumentais, uma taxa mais alta de aumento da temperatura foi observada pelo menos três vezes: no final do séxculo XVII e início do século XVIII; na segunda metade do século XVIII; no fim do século XIX e início do século XX. A taxa centenária de aquecimento no século XX é mais baixa do que do aquecimento do século XVIII, registrado instrumentalmente, e mais lenta do que o aquecimento em pelo menos 13 casos nos últimos 50.000 anos, medidos por métodos paleoclimáticos.

10. Entre as causas da mudança climática na era pré-industrial não havia quase nenhum fator antropogênico — devido ao tamanho modesto da população e às limitadas atividades econômicas da humanidade. Mas o âmbito das flutuações climáticas, suas taxas e valores de pico na era pré-industrial excederam os parâmetros da mudança climática registrada no período industrial.

11. Durante a era industrial (desde o início do século XIX), acredita-se que a mudança climática esteja sob o impacto de ambos os grupos de fatores — de caráter natural e antropogênico. Como a taxa de mudança climática na era industrial é tão menor que de alguns períodos da era pré-industrial, não há base para a afirmação de que fatores antropogênicos já tenham se tornado tão significativos quanto os natural, e muito menos que já os tenham superado.

12. Fatores de mudança climática antropogênicos são bastante diversos e não podem ser restritos somente ao dióxido de carbono. A humanidade impacta o clima local, regional e global construindo edifícios e estruturas, aquecedores, instalações públicas e industriais; desmatando e plantando florestas; arando terra cultivável; represando rios; drenando e irrigando terras; nivelando e pavimento terrenos; conduzindo indústrias; emitindo aerossóis, etc..

13. Não há consenso na comunidade científica sobre o papel do dióxido de carbono na mudança climática. Alguns cientistas acreditam que seja crucial, outros que é secundário a outros fatores. Há também sério desacordo sobre a natureza e direção da possível causalidade entre a concentração de dióxido de carbono na atmosfera e a temperatura: alguns pesquisadores acreditam que o dióxido de carbono provoca um aumento da temperatura, e outros defendem o oposto — que flutuações na temperatura causam mudanças na concentração de dióxido de carbono.

14. Diferentemente do monóxido de carbono (CO), o dióxido de carbono (CO2) é inofensivo aos humanos; diferentemente do aerossol, um substância nociva e perigosa, o dióxido de carbono não polui o meio ambiente. Não tem cor, gosto ou cheiro. Portanto, fotos e vídeos muito divulgados mostrando chaminés de fábricas emitindo fumaça e carros emitindo escapamento para ilustrar o dióxido de carbono são simplesmente enganosos — o CO2 é invisível; o que é visível nessas imagens são poluentes. Também se deve notas que a concentração aumentada de dióxido de carbono no ar tem um impacto positivo sobre a produtividade das plantas, incluindo culturas agrícolas.

15. A relação entre a concentração de dióxido de carbono e mudança climática ainda é tema de intenso debate científico. É verdade que a concentração de dióxido de carbono na atmosfera aumentou de 280 partes por milhão de partículas de ar no início do século XIX para 388 partículas em 2009. Também é verdade que a temperatura global no período aumentou cerca de 0,8ºC. Mas se esses dois fatores estão conectados não está claro. A dinâmica da concentração de CO2 não teve uma correlação boa com as mudanças esperadas na temperatura. Os aumentos rápidos e significativos na temperatura global durante os períodos interglaciais do Pleistoceno, durante o Ótimo Climático Medieval, e no século XVIII, não foram precedidos por um aumento na concentração de dióxido de carbono. Na era industrial, um aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera não foi sempre acompanhado de um aumento na temperatura global. Em 1944-1976, a concentração de CO2 aumentou em 24 unidades — de 308 para 332 partículas — mas a temperatura global caiu em 0,1ºC. Em 1998-2009, a concentração de CO2 aumentou em 21 unidades — de 367 para 388 partículas — mas a tendência de temperatura global ficou estável. Na primeira metade dos anos 1940, a redução da concentração de dióxido de carbono em 3 unidades (comor resultado da destruição em massa causada pela Segunda Guerra Mundial) não impediu a temperatura global de aumentar em 0,1ºC.

16. Até agora, os modelos climáticos globais demostraram eficácia limitada. A natureza complexa do sistema do clima não é refletida com adequação suficiente nos modelos climáticos globais cujo uso recentemente se espalhou pelo mundo. As projeções desenvolvidas com base neles do fim dos anos 1990 ao início dos anos 2000 previam um aumento de 1,4-5,8ºC na temperatura global até o fim do século XXI, com um aumento de 0,2-0,4ºC já na primeira década. Na realidade, nos anos de 1998-2009 a temperatura ficou no máximo estável.

17. Previsões de mudança climática global feitas no início da década por cientistas russos (do Instituto de Pesquisa Ártica e Antártica, o Observatório Geofísico Principal de Voeikov) previram uma queda na temperatura global de 0,6ºC em relação ao pico atingido no fim do século XX até 2025-2030. Até agora, a temperatura na última década não aumentou.

18. As implicações da mudança climática para os seres humanos diferem muito dependendo de sua direção, tamanho e velocidade. Um aumento na temperatura leva, em regra, a um clima mais úmido e ameno, enquanto uma redução da temperatura leva a um clima mais seco e rigoroso. Foi um ótimo climático do Holoceno, com temperaturas 1-3ºC mais altas do que hoje, que contribuiu enormemente para o advento da civilização. As condições para a vida e a atividade econômica nos climas mais quentes são geralmente mais favoráveis que nos ambientes mais frios. Em climas mais quentes, tende a haver mais precipitação do que em áreas mais secas, o custo do aquecimento e o volume de comida exigidos para a sobrevivência humana são menores, os períodos de navegação e vegetação são mais longos, e a produtividades das culturas é maior.

19. Os métodos para "combater o aquecimento global" reduzindo emissões de dióxido de carbono sugeridos por alarmistas do clima não têm justificativa científica na ausência de mudanças extraordinárias ou incomuns no clima na era moderna. Tais medidas, se adotadas, são especialmente perigosas para países de renda baixa e média. Tais medidas efetivamente tirariam esses países do caminho da prosperidade e obstruiria sua capacidade de fechar a lacuna que os separa das nações mais desenvolvidas.

20. O impacto de todos os fatores antropogênicos (não apenas CO2) sobre o clima não está claro quando comparado aos fatores naturais. Portanto, a estratégia mais eficaz para a humanidade na reação a diferentes tipos de mudança climática é a adaptação. Essa é exatamente a forma como a humanidade reagiu às mudanças em maior escala do passado, embora estivesse menos preparada para tais mudanças. Agora a humanidade tem mais recursos para se adaptar, as flutuações climáticas são menores, e temos mais preparo científico, técnico e psicológicopara elas. A adaptação da humanidade às mudanças climáticas é incomparavelmente menos custosa do que outras opções sendo propostas e impostas por alarmistas do clima. A humanidade já se adaptou antes a mudanças climáticas, e continuará a se adaptar enquanto a sociedade e a economia forem livres e vibrantes.

Andrei Illarionov, ex-conselheiro econômico do presidente russo, é senior fellow do Cato Institute.

Fonte: http://www.ordemlivre.org/node/822

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