Brazil é de origem celta


A palavra brasil documenta-se num campo etimológico distinto do das formas tupi, tupi-guarani, aríaca, sânscrita e grega. Adelino José da Silva d'Azevedo, em Este nome: Brazil (1967), reduz as 11 hipóteses existentes a uma única: Brasil grafa-se com z e é de origem céltica. Demonstra ele que os fenícios, notáveis navegadores e comerciantes, mantinham intenso comércio de óxido de estanho, de corante vermelho mineral, com os celtas, povo metalúrgico e mineiro, que extraía esse produto desde a Ibéria até a Irlanda. 

Nesse intercâmbio, os fenícios foram seguidos pelos gregos, que designavam o óxido de estanho e o vermelhão dele obtido por kínnabar, kinnábari (lat. cinnabar, port. cinabre, cinábrio, esp. cinabrio, it. cinabro, ing. cinnabar, al. Zinnober etc.), denominação aplicada depois ao tom vermelho de qualquer matéria-prima. O gr. kínnabar, kinnábari forma-se da raiz kínn, que traduz a idéia de metálico e rubro', de na, 'qualidade de ser metal, de ser rubro', e da particular bar , 'sobre, em cima de, superioridade'. Uma característica do céltico era a próclise das partículas, em oposição á ênclise grega.

Assim entende-se como o gr. kínnabar, kinnábari corresponde ao barcino, brakino, breazail céltico, também nome do vermelhão.

Dos contatos comerciais estabelecidos entre gregos e celtas a partir do séc. VI a.C., resultou que, por essa época, o celtismo brakino e o ítalo-celta verzino suplantaram respectivamente o gr. ,kínnabar, kinnábari, e o germânico zinnover, zinnober, todos com sentido afim. O esp. barcino, bracino, barzino, port. color varziano (em D. João I), 'avermelhado', confirmam a ocorrência das grafias celta e ítalo-celta. Mas é no irlandês, onde permanece mais vivo o substrato céltico, que se documenta melhor a ocorrência do barcino, brakino, breazil. O título de um poema do bardo Moore, escrito em inglês, é O'Brasil, palavra irlandesa também referida pelo folclorista O'Flaherty ( -1718).
 

A origem do irl. O'Brazil é o celta Hy Breasil, 'descendentes do vermelho', onde o s é igual ao z (Hy Breazil, portanto), do celta breasil, breazil, ' vermelho'. Ressalte-se que o s do celta breasil só foi transliterado pelo s latino por erro de interpretação gráfica dos monges. Ele deve ser escrito z. Hy Breazil (celta), O'Brazil (irl.), 'descendentes do vermelho', é uma referência aos gregos e fenícios, pois ao deixarem de comerciar o vermelhão com os celtas, eles desapareceram nas brumas do Atlântico, tornando-se um povo mítico e afortunado, que nunca voltou à Irlanda, porque vivia feliz na misteriosa e paradisíaca ilha do Brazil.

Segundo Adelino d'Azevedo, o sufixo-il. no irl. Brazil, é uma derivação céltica, ao contrário da suposição de muitos filólogos, que o consideram formado dentro do português, para justificar o étimo germânico bras(a), port. brasa e sufixo -il. No indo-europeu e celta, o in passa a il (n>l), o que explica bracino > brazino> brazilo brazil. A permanência de brazino, brazil, como designativo do corante vermelho, da madeira e, em geral, da cor vermelha, explica-se por essa palavra referir-se a uma arte caseira, onde permanece o vocabulário indígena em detrimento do oficial. Daí brazil ter afastado o lat. ruber como nome do corante vermelho usado na arte caracteristicamente caseira da tinturaria.

Assim, o gr. kínnabar, lat. cinnabar, germánico zinnober, celta breazáil, irl. brazil, esp. barcino, bracino, port. varzino, brazino têm o significado geral de ' vermelho'
 

Quando, na Idade Média, o artesanato mediterrâneo passou a usar o corante vermelho vegetal, as populações ribeirinhas dedicaram-se ao comércio do pau-brasil. Édessa época (séc. XIII) o aparecimento do toscano verzino, o vêneto berzi, genovês brazi, que, de nome do corante, passou a designar a madeira e a planta de onde era extraído o produto. Mas, nas regiões interiores, o étimo fixou-se, desde o séc. XIV, como 'gado avermelhado' (esp. barcino, bracino, barzino, port. brazino, varzino ÍD. João I), já que ali a pecuária tinha papel relevante e o comércio do pau-brasil não existia. Ressalte-se também a ocorrência da base vocabular em topônimos como Bergine, cidade próxima a Massílía (Marselha), mencionada por Avieno, em Ora marítima (Orla marítima); Verzino, antiga povoação italiana da província de Novara; Varzim, em Portugal, atual Póvoa de Varzim; Bárcinon, 'Barcelona'. Como prova do enraizamento do gr. kínnabar com a próclise céltica, há o lat. Bárcinon, 'Barcelona'; esp. barcíno, barzino, brazino, 'avermelhado'; port. varzino, 'cor avermelhada', brazino, 'gado avermelhado' (esp. barcino, bracino. barzino, tivo; it. Varzino, lugar perto de Novara; toscano verzino, ' vermelho '; véneto berzi, verzi, 'cor vermelha'; genovês brazi, 'cor vermelha'; gaulês Bergine, cidade perto de Massília (Marselha); gr. mod. bertzi, 'cor vermelha'; servo-croata varzili, varzilo, 'corante vermelho'.

À época dos descobrimentos, Portugal procurava manter em segredo os estudos que precediam as viagens dos navegadores. Fazia-se silêncio também sobre os novos lugares descobertos, para melhor expIorá-los economicamente. De informações orais trazidas clandestinamente de Portugal, nasceu entre os cartógrafos de outras nações européias a suposição de que existiria uma ilha do Brazil (com z na maioria dos mapas), onde os portugueses apanhavam o pau-brasil. Contribuiu também para essa fantasia o registro, em mapas portugueses (fonte da cartografia européia do séc. XV-XVI), da ilha do Brazil, certamente resquício da lenda celta do Hy Breazil, muito difundida na Irlanda, de onde facilmente teria chegado a Portugal, pelo intercâmbio das duas regiões no tempo dos fenícios, gregos e celtas. Adelino d'Azevedo utiliza-se desses argumentos cartográficos para corroborar sua tese.

Fonte : Enciclopédia Britânica Brasileira


Comentários

Postar um comentário

Faça Seu Comentário não é Necessário Fazer Login!

Achou uma matéria mais completa?
Discorda ou Concorda com a Postagem?
Tem alguma ideia sobre o Assunto para Compartilhar?