Maçonaria e Política 1 – o Grande Selo


Por Eduardo Bettega

Em 04 de julho de 1776 foi declarada a independência dos Estados Unidos da América. O ato é sempre lembrado como uma obra maçônica. Há exagero na afirmação, primeiramente difundido pelos próprios maçons, com o intuito de se autopromoverem, e posteriormente endossado pelos adeptos das teorias da conspiração, débeis mentais que enxergam elaboradas maquinações em toda e qualquer manifestação humana sobre a face da Terra.
A maçonaria se presta ao papel porque se tornou um polo de ideias novas desde que eclodiu como movimento organizado, entre o final do século 17 e início do 18. Alguns dos pensamentos típicos da irmandade foram verdadeiras revoluções para a época, como a liberdade de pensamento, de expressão religiosa e política, e a aversão a toda forma de absolutismo.
Por seus ideais libertários, é possível identificar a influência maçônica na Revolução Francesa, na independência de diversos países e também nos movimentos abolicionistas.
Nos Estados Unidos, maçons ajudaram a criar as “underground railroads”, rotas secretas de fuga dos escravos para o Canadá, que livraram entre 30 mil e 100 mil negros do cativeiro, e tiveram atuação destacada em vários momentos de sua independência, mas por falta de registros confiáveis existem dúvidas sobre quem pertenceu ou não à irmandade. Dos 56 signatários da Declaração da Independência, 8 certamente eram maçons, mas o número total pode chegar a 24. Sobre a Constituição, há provas de que havia no mínimo 13 maçons entre os 39 que a assinaram.
Isso, no entanto, não significa o domínio sobre o país. A crença de que há símbolos maçônicos na estrutura do poder norte-americano nasceu da adoção do Grande Selo (Great Seal) pelo Congresso, em 1782, como o brasão oficial da presidência dos Estados Unidos e que, a partir de 1934, passou a ser reproduzido na nota de um dólar.
Em seu desenho, o Grande Selo faz várias referências aos 13 estados que declararam a independência. O símbolo escolhido para identificar a nação, a águia, é protegido por um escudo nas cores da bandeira, com 13 listras. Na garra direita há um ramo de oliveira com 13 folhas e 13 frutos, simbolizando a atitude pacífica, mas em sua garra esquerda há 13 flechas, avisando sobre a disposição, sempre que necessário, para a guerra. Acima da cabeça da águia há o diadema com 13 estrelas de 5 pontas, formando uma estrela de 6 pontas. Na faixa existe a frase “E pluribus unun”, que significa “Entre muitos, um se destaca”.
No verso foi desenhada a pirâmide inacabada composta por 13 degraus e, sobre ela, o triângulo com o olho dentro de um círculo, e os dizeres “Annuit coepts”, que quer dizer “Ele aprova nossos atos” e “Novos Ordo Seclorum”, “Uma nova ordem dos tempos”.
A pirâmide, o olho e as frases são apontados, inclusive por maçons, como sendo de influência da irmandade, mas é fácil de ver que a tese não se sustenta. Em primeiro lugar, a pirâmide não é um símbolo usual na maçonaria. Já o olho, na época em que foi usado no selo era usado apenas esporadicamente pela maçonaria, que o adotou como um de seus principais símbolos apenas no final do século 18. Além disso, o olho não é uma criação maçônica, pelo contrário, ele nasceu no Egito antigo e é uma convenção artística para a onisciência muito utilizada durante a Renascença. Além disso, sua adoção foi sugerida pelo artista Pierre Eugène Du Simitière, que não tinha ligações com a maçonaria. E, finalmente, as frases, que conteriam significados ocultos, na verdade têm a intenção de demonstrar que, aos olhos dos patriotas, a vontade divina está em favor dos Estados Unidos.
A realidade, no entanto, não parece incomodar os arautos do insondável, incansáveis em buscar novas emoções através dos supostos feitos de associações diversas. Dessa forma, a cidade de Washington assume desenhos maçônicos em seu projeto arquitetônico, igualmente Paris, Bruxelas e Barcelona... Pode até ser que algumas dessas produções tenham origem na Ordem Maçônica, mas a questão é o que isso representa.
É só fazer uma visita a Paraty, no litoral do Rio de Janeiro, para verificar o desfecho de tanta ingerência. A cidade é fantástica. Sua parte histórica foi toda construída sob a influência da maçonaria! Há várias casas com decorações maçônicas, apesar de que algumas delas são falsificações realizadas quando de sua recuperação. No entanto, o feito mais impressionante está nas esquinas, onde boa parte delas, embora não ostentem símbolos maçônicos em suas fachadas, têm três pedras empilhadas na base. E isso se dá em três casas de cada quatro da esquina, formando os triângulos maçônicos. Ou seja, os maçons simplesmente ordenaram a forma da cidade inteira!
E o que aconteceu com Paraty? Ele era local de escoamento do ouro vindo das Minas Gerais, mas não tem porto e as mercadorias precisavam ser colocadas em barcos menores para então serem repassadas às grandes embarcações. Uma operação antieconômica, que foi abandonada em prol do embarque pelo porto do Rio de Janeiro. Assim, a partir do final do século 18, a cidade definhou até morrer, sendo redescoberta nos anos 1950 como patrimônio histórico, pois o abandono foi tal que suas casas centenárias ainda estavam lá, podendo ser reconstruídas.
Pois bem, o que a maçonaria fez com sua obra? Ora, abandonou junto com todo mundo! E é isso. Não há mágica. Há a realidade. A maçonaria não é o polvo cheio de tentáculos que muitos acreditam, pois se fosse, com seu ideário progressista, não haveria mais miséria em canto algum do planeta. 

Eduardo Bettega.

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