As Pesquisas de Michel Gauquelin
deldebbio | 3 de junho de 2009
Quando criança, Michel Gauquelin tinha um verdadeiro fascínio pela astrologia. Aos sete anos já sabia dizer qual o signo solar dos seus colegas de escola, se estes lhe revelassem a data do nascimento. Aos dez aprendeu com o pai a calcular o Ascendente. E assim chegou à adolescência lendo, devorando livros de astrologia. Não admira que os colegas de escola o chamassem de Nostradamus. Mas o prestígio que obtivera junto às meninas compensava qualquer piadinha ou gozação dos meninos.
À medida, porém, que o jovem Michel amadurecia, dentro dele crescia a necessidade de provas e demonstrações científicas. Foi quando se lançou em busca de datas e horários de nascimento para verificar se eram verdadeiras ou falsas as alegações da tradição astrológica. Segundo suas próprias palavras, “O pouco dinheiro que eu tinha, gastava em selos nas cartas que escrevia para os muitos cartórios de registro da França, solicitando horários de nascimento”. Gauquelin tinha em mente uma pesquisa de natureza estatística e precisava reunir dados suficientes para chegar a uma conclusão válida. Os primeiros testes focalizaram o simbolismo zodiacal: a influência do zodíaco na escolha profissional e a hereditariedade entre pais e filhos. Os resultados foram publicados em 1955, no primeiro livro, L’Influence des Astres, após cinco anos de trabalho.
Além da pesquisa centrada no zodíaco, que não foi favorável à astrologia, embora, como veremos em outro artigo, seu planejamento tenha sido no mínimo discutível, outro experimento, que mostrava a distribuição no espaço dos planetas do sistema solar, mais o Sol e a Lua, obteve um extraordinário sucesso. Calcularam-se as posições desses corpos celestes no horário de nascimento de médicos eminentes da Academia de Medicina da França, num total de 576 profissionais, tendo como resultado uma interessante correlação. Dois anos depois, repetiu-se o mesmo tipo de experiência, dessa vez com outros 508 médicos, e novamente as correlações se confirmaram. A grande “descoberta” foi que, dividindo a esfera celeste em doze setores, os planetas Marte e Saturno, e só eles, apareciam com maior freqüência próximo ao nascer (surgimento no horizonte) e à culminação superior (passagem pelo meridiano local) no horário em que os futuros médicos vieram ao mundo. Essa freqüência em dois dos setores demarcados superava em muito o que seria o esperado numa distribuição aleatória. O resultado, como veremos no segmento que explica a experiência, mostrava-se estatisticamente muito significativo, ou seja, a probabilidade de que esses dados fossem obra do acaso era remotíssima.
Outras profissões também foram avaliadas em relação aos planetas. Correlações significativas surgiram igualmente no nascer e na culminação de Marte para atletas, de Júpiter para atores e políticos, de Saturno para cientistas e da Lua para escritores e também para políticos. Entre 1956 e 1958, Gauquelin reproduziu o mesmo procedimento com amostras de outros países europeus: Alemanha, Bélgica, Holanda e Itália. Mais uma vez observou o mesmo efeito, os mesmos planetas apareciam com freqüência bem maior do que o normal nas proximidades do horizonte leste e da culminação superior no momento em que nasciam indivíduos que, no futuro, viriam a ser profissionais bem-sucedidos numa área específica. Havia também um pequeno aumento da freqüência próximo ao ocaso e à culminação inferior. Os outros planetas do sistema solar, bem como o próprio Sol, componentes fundamentais da análise astrológica, não apresentaram correlação com nenhuma das profissões pesquisadas. Em 1960, Gauquelin publica Les Hommes et Les Astres, apresentando todos esses novos resultados.
Continuando a pesquisa, em 1966 ele publica o livro L’Hérédité Planetaire, mais um marco em sua carreira. Aqui são comparadas as posições dos astros na hora de nascimento de pais e filhos, segundo o mesmo método de divisão da esfera diurna utilizado para as profissões. Os planetas que ocupam a região em torno do nascer e da culminação superior no momento em que nascem os pais tendem a reproduzir essas posições no caso dos filhos. Estatisticamente, os valores novamente são muito significativos e o efeito planetário na hereditariedade vem reforçar o significado das experiências anteriores. Desta vez, o planeta Vênus também aparece como significativo nas correlações. Gauquelin ainda encontraria uma outra correlação interessante: entre a atividade geomagnética e a intensidade do efeito planetário na hereditariedade em termos de casos positivos. De acordo com os cálculos efetuados, o efeito planetário era aproximadamente duas vezes mais forte quando a criança nascia em dias de maior perturbação magnética, ou seja, as correlações envolvendo pais e filhos eram mais freqüentes nesses dias. E se o parto (dos filhos) fosse por cesariana em vez de normal, a correlação diminuía sensivelmente.
No final da década de 60, Gauquelin deu um novo rumo a suas pesquisas. Os resultados de duas décadas de trabalho pareciam apontar numa direção bem mais promissora. Melhor do que relacionar profissões com planetas seria vincular esses corpos celestes com traços de personalidade típicos de pessoas que são bem-sucedidas numa determinada carreira. Afastava-se, assim, a incômoda idéia de destino, do “estar escrito nas estrelas”, que dava lugar a predisposições de natureza psicológica. Para alguém ter êxito numa profissão, e a pesquisa de Gauquelin nesse sentido só encontrou correlações estatisticamente válidas nos profissionais de alto nível, naqueles que atingiram o topo da carreira, é preciso possuir certas características praticamente indispensáveis a um desempenho competente no ofício. Por exemplo: executivos devem ter iniciativa e dinamismo (Marte), cientistas precisam ser disciplinados e introspectivos (Saturno), atores via de regra são extrovertidos (Júpiter), e assim por diante.
Antes de examinarmos com mais detalhes esta última etapa do trabalho de Michel Gauquelin, sem dúvida a mais importante, explicaremos alguns conceitos de astronomia necessários ao entendimento da metodologia utilizada. Depois poderemos apresentar a elaboração dos experimentos e, em seguida, qual o impacto que os resultados tiveram na comunidade científica, se é que houve algum.
O Movimento Diurno
Devido à rotação da Terra sobre seu próprio eixo, um observador pode ver, no céu, o Sol, a Lua, os planetas e as estrelas descreverem uma trajetória na esfera celeste, cujo tempo aproximado é de 24 horas. Esse movimento segue no sentido do leste para o oeste, já que nosso planeta gira no sentido contrário. Na Figura 1, Gauquelin dá um exemplo do movimento diurno de Marte para o dia 24 de maio de 1956, em Paris. Nesse dia, o planeta vermelho nasceu, isto é, surgiu no horizonte leste, à 0h44, culminou às 5h33 e se pôs no horizonte oeste às 10h22.
Vemos nessa figura dois grandes círculos perpendiculares que são o horizonte e o meridiano do lugar. O movimento de Marte é marcado pelo círculo ABCDA. O ponto A assinala o momento em que este corpo celeste aparece no horizonte leste, portanto quando cruza a linha do horizonte, à 0h44. Continuando sua trajetória, ele se eleva no céu, com uma certa inclinação, até atingir a culminação, ou seja, seu ponto mais alto na esfera celeste, o ponto B, às 5h33. Daí ele começa a descer, chegando ao ponto C, na intersecção com o horizonte oeste, às 10h22. A partir dessa posição, Marte segue abaixo do horizonte até alcançar o ponto D, onde cruza o meridiano em sua culminação inferior, localizada a 180 graus da culminação superior. Desse ponto ele voltará para o ponto A, nascendo novamente. Softwares de astronomia ou de astrologia fornecem a posição dos demais planetas, além do Sol e da Lua, entre o horizonte e o meridiano para um determinado momento. Assim, pode-se fazer um estudo de correlação envolvendo todos eles.
O que interessava a Gauquelin era justamente determinar a posição de um planeta, do Sol e da Lua no momento em que uma pessoa nascesse. Para fazer um cálculo estatístico da freqüência de nascimentos nas diversas posições possíveis, era preciso dividir o círculo do movimento diurno em partes iguais. Desta maneira, são computados separadamente todos os nascimentos ocorridos
O número de médicos nascidos no momento em que Marte e Saturno ocupavam os setores 1 e 4 era maior que 16,7% da amostra, indicando uma “preferência” pela proximidade com o Ascendente e o Meio-do-Céu, os dois pontos mais importantes de uma carta astrológica.
quando um planeta estava numa determinada região da esfera celeste. Assim, seguindo com o exemplo de Marte, o movimento diurno deste planeta é dividido em 12 partes ou setores. Não confundir esta divisão com a divisão astrológica das Casas Terrestres, embora as posições do Ascendente e do Meio-do-Céu (culminação superior) sejam as mesmas. Futuramente, Gauquelin adotaria o sistema de Casas astrológicas de Plácido.
Na Figura 2, vemos que Marte esteve acima do horizonte durante 9 horas e 38 minutos (578 minutos). Logo, permaneceu abaixo do horizonte por 862 minutos, num total de 1440 minutos, ou seja, 24 horas. Dividiu-se então o arco diurno do planeta em seis setores iguais, cada um com 96 minutos de arco; o mesmo para o arco noturno, cada setor com 144 minutos de arco. Numerados os setores de 1 a 12, o primeiro começa exatamente ao nascer à 0h44, o segundo às 2h20, depois passando pela culminação às 5h33, pelo ocaso às 10h22, e assim sucessivamente. Se nesse dia uma pessoa nasceu à 1h10, Marte estava no setor 1, pouco acima do horizonte. Se o nascimento foi às 5h15, Marte aproximava-se da culminação superior, ainda no setor 3. O mesmo procedimento vale para a posição dos outros corpos celestes. Em amostras de alguns milhares de nascimentos, os planetas e os luminares estarão distribuídos entre esses setores, ocupando cada um deles com uma determinada freqüência.
Procedimentos Experimentais
Teoricamente, espera-se que cada corpo celeste, ou operador celeste astrológico, passe um dozeavos (8,33%) do tempo em cada setor, embora existam variáveis astronômicas e demográficas, devidamente controladas nas pesquisas de Gauquelin, que alteram um pouco esse valor, daí a necessidade de um grupo de controle, tomado aleatoriamente e formado por indivíduos que nasceram no mesmo intervalo de tempo e na mesma região das pessoas que compõem a amostra. Assim é possível conhecer a distribuição média e compará-la com o resultado obtido. Se a distribuição dos nascimentos pesquisados estiver dentro dessa média, portanto com um número praticamente igual de nascimentos em cada setor, então não há problema nenhum, trata-se de uma distribuição aleatória. É o que deve acontecer. Ou pelo menos deveria. Para analisar estatisticamente as amostras, Gauquelin utilizou o teste do qui-quadrado, uma medida que compara freqüências observadas com freqüências teoricamente esperadas e indica a extensão da discrepância entre os dois conjuntos de dados, e a distribuição normal padronizada (z score), que dá a distância relativa da média em unidades de desvio padrão
Essa distribuição, ou seja, quantas vezes um planeta encontra-se presente num certo setor para uma determinada amostra, pode revelar se existe de fato uma correlação estatisticamente significativa entre a posição do planeta e a natureza específica de um conjunto de nascimentos. Como já dissemos, o primeiro experimento bem-sucedido do casal Gauquelin foi com a amostra que reunia o horário de nascimento de 576 médicos ilustres. O número de médicos nascidos no momento em que Marte e Saturno ocupavam os setores 1 e 4, ou seja, quando estes planetas se elevavam no horizonte leste ou pouco depois de cruzarem o meridiano do lugar, era maior que 16,7% da amostra, indicando uma “preferência” pela proximidade com o Ascendente e o Meio-do-Céu, os dois pontos mais importantes de uma carta astrológica. A freqüência encontrada era bastante significativa. Sendo a amostra relativamente grande – 576 indivíduos -, o resultado era altamente improvável se atribuído ao acaso.
Gauquelin repetiu o experimento com outra amostra, desta vez com 508 médicos ilustres, uma quantidade também adequada para fins estatísticos. O resultado novamente confirmou uma freqüência bastante significativa de nascimentos quando Marte e Saturno ocupavam os setores 1 e 4, que mais tarde passariam a ser chamados de setores-chave.
A associação encontrada por Gauquelin entre medicina e os planetas Marte e Saturno corrobora os significados tradicionais que a astrologia atribui a esses dois planetas ao vinculá-los, especialmente no caso de Marte, à medicina e aos médicos. As observações empíricas dos antigos já detectavam uma correlação que só no século XX viria a ser redescoberta, embora a ciência oficial continue com seus ataques histéricos contra a astrologia.
Sendo ele um pesquisador sério e honesto, qualidades nem sempre aplicáveis a seus detratores, Gauquelin sabia que deveria continuar repetindo essas experiências para assegurar-se da validade do fenômeno. Pois tudo poderia não passar de uma combinação fortuita. Depois de muitos malogros, alguma vez ele poderia fatalmente sair com um resultado positivo – apenas por acaso. Assim, seguiu em frente, agora recolhendo dados de nascimento de franceses que se destacaram nos esportes, na política, na guerra, enfim, nas mais diversas atividades. As informações sobre cada pessoa, ele as obtinha de dicionários biográficos; o horário de nascimento, de cartórios de registro.
Mais uma vez, alguns planetas confirmavam seus significados tradicionais. Aqueles mesmos setores – às vezes também outros, quando se dividia o movimento diurno em 18 ou 36 setores – apresentavam uma freqüência maior que a esperada, e agora Gauquelin chegava a resultados ainda mais impressionantes, principalmente naquilo que ficou conhecido como o Efeito Marte e sua altíssima freqüência no caso de esportistas eminentes. Em um dos experimentos, para uma freqüência esperada de 253 nascimentos nos setores-chave, ou zona de acréscimo, como ele a chamou, a freqüência observada foi de 327 nascimentos, numa amostra de 1485 campeões. Dado o tamanho da amostra, a diferença em relação à freqüência teórica, mesmo sendo relativamente pequena torna-se extremamente significativa. Aqui temos um desvio de 29,2% para mais. A probabilidade do resultado ser obra do acaso é de menos de 1 para 1 milhão!
Na Figura 3, uma representação gráfica circular da distribuição de Marte no horário de nascimento de 2088 esportistas campeões. O círculo representa a distribuição teórica; a linha contínua, as posições de Marte; e a linha tracejada, a distribuição para Marte no nascimento de 717 esportistas comuns. Observa-se que a linha contínua apresenta picos pouco depois do nascer e da culminação superior. Para os esportistas medianos, porém, o padrão desaparece. Sistematicamente, Gauquelin constatou que esse resultado estatístico significativo só ocorria entre profissionais eminentes. Antes de apresentarmos a explicação que ele encontrou para essa discrepância, vejamos mais alguns gráficos de distribuição planetária.
A Figura 4 mostra as posições de Saturno para 3647 cientistas (linha contínua) e 5100 artistas (linha tracejada) . O planeta tradicionalmente associado à introspecção, disciplina, introversão, concentração, aparece com muito mais freqüência pouco depois do nascer e da culminação superior na amostra de cientistas. Ao contrário, entre os artistas, é como se ele evitasse essas posições e ali sua freqüência caísse abaixo da média esperada, representada pelo círculo.
Na Figura 5 podemos ver a distribuição de Júpiter para uma amostra de 993 políticos. O círculo tracejado corresponde ao resultado teórico de um grupo de controle. O mesmo padrão se repete. Na astrologia, esse planeta encerra características como extroversão, otimismo, sociabilidade, ambição, etc.
Traços de Personalidade
No começo da década de 60, houve um redirecionamento no trabalho de Gauquelin. Em vez de planetas e profissões, ele percebeu que existia uma relação subjacente mais efetiva, agora entre planetas e traços de personalidade. Esta nova relação podia explicar por que um padrão de distribuição recorrente só aparecia em amostras de profissionais de alto nível e não em pessoas comuns, medianas. Pessoas bem-sucedidas costumam apresentar certos traços de personalidade bem acentuados, o que justamente lhes permite destacar-se entre os demais. Aqueles estranhos resultados, que sugeriam algo como um destino estabelecido pelos planetas, talvez não fossem tão estranhos assim. Talvez estivessem indicando um certo tipo de comportamento associado ao desempenho em determinadas profissões. Assim, o planeta nada tinha a ver com esta ou aquela profissão, mas com certas características da personalidade de um indivíduo.
Assim, pessoas mais agressivas, bastante determinadas, preocupadas com a auto-afirmação, competitivas, que prontamente tomavam iniciativas teriam mais chance de se destacar em carreiras que exigissem atitudes dessa natureza: militares, executivos, atletas. Neste caso, pode-se dizer que predomina Marte nos setores 1 e 4 (na divisão por doze). Se predominar a Lua, os profissionais lunares serão escritores e/ou políticos: imaginação, sensibilidade, flexibilidade, popularidade são, entre outros, os traços que definem a natureza do nosso satélite. O mesmo acontece com Saturno e Júpiter e seus respectivos traços.
Para fundamentar sua hipótese – que a posição de um planeta no momento e local de nascimento está relacionada a determinados tipos de personalidade -, Gauquelin utilizou as informações biográficas dos profissionais eminentes cujos dados de nascimento ele já tinha em mãos. Partindo, portanto, de descrições elaboradas por terceiros, ele extraía do texto palavras que o autor usava para caracterizar a personalidade ou o comportamento do biografado. Termos como passional, sério, obstinado, agressivo eram exemplos de traços de personalidade que serviam para tipificar determinada pessoa. Consultando várias fontes, Gauquelin abria uma ficha para cada traço, e numa mesma linha escrevia o nome da celebridade e as posições dos planetas no nascimento.
Não é difícil imaginar o imenso trabalho envolvido numa pesquisa de tal magnitude. Durante dez anos, Gauquelin, a esposa Françoise e uma equipe de pesquisadores juntaram mais de 5.000 documentos biográficos de cerca de 2.000 pessoas famosas, num total de 6.000 traços para esportistas campeões, 10.000 para cientistas, 18.000 para atores e 16.000 para escritores. No começo, os dados eram tratados manualmente, mas depois puderam contar com os recursos da Astro Computing Services, em San Diego, Califórnia. Entre 1973 e 1977 foi publicada uma série de monografias com a análise final de todos os dados da pesquisa.
Para deixar bem claro que o que estava em jogo era uma correlação entre planetas e traços de personalidade, e não profissões, comparou-se o perfil de um profissional com os traços típicos de sua profissão – no caso, esportistas campeões, atores, cientistas e escritores – com o de outros que apresentavam um antiperfil. Em nascimentos de campeões bastante obstinados e de vontade férrea, Marte aparecia com freqüência duas vezes maior nos setores-chave do que no caso de campeões pouco determinados e inseguros. Atores muito sociáveis nasciam com Júpiter muito mais freqüente nos setores-chave do que aqueles menos comunicativos. Cientistas introspectivos nasciam em maior número quando Saturno se posicionava próximo ao nascer e à culminação superior do que cientistas mais extrovertidos. E, finalmente, a Lua comparecia maior número de vezes aos setores mencionados para os escritores realmente sensíveis e imaginativos.
Surgiam, portanto, quatro fatores planetários que de algum modo funcionavam como determinantes da personalidade; e o que é mais importante, esse tipos planetários reproduziam os significados da tradição astrológica. As observações dos antigos, conquanto empíricas e sem a sofisticação do método científico moderno, mostravam-se corretas. Para os astrólogos, é claro que não havia nenhuma surpresa. Há séculos que esses corpos celestes eram vistos como vinculados a certos temperamentos. E havia também os outros planetas e mais o Sol, para os quais Gauquelin não encontrou as evidências necessárias.
Pais e Filhos
Vencidas as dificuldades para obter os dados de nascimento de mais de 30.000 indivíduos, incluindo pais e filhos, passou-se para o cálculo das posições planetárias. Confirmou-se que os filhos apresentam a tendência a nascer no momento em que um determinado planeta, posicionado no nascer e na culminação superior, também ocupasse essa mesma região do espaço no nascimento de seus pais. As semelhanças valiam tanto para o pai quanto para a mãe. Se ambos nascessem com o mesmo planeta nas zonas 1 e 4, duplicava a tendência do filho acompanhar o padrão. A probabilidade de que a correlação fosse obra do acaso era de menos de 1 para 1 milhão. Onze anos depois, Gauquelin repetiu o experimento e novamente obteve resultados igualmente significativos. Não foram observadas correlações significativas para Mercúrio, Urano, Netuno e Plutão, e nem para o Sol.
Finalmente, Gauquelin observou que esse efeito de hereditariedade planetária não se manifestava quando a criança nascia de parto cirúrgico, ou se o nascimento de algum modo era induzido por meio de medicamentos apropriados. Vale dizer que apesar dessa constatação, a experiência astrológica, utilizando o mapa natal como um todo, não tem verificado nenhuma diferença nesse sentido. Os mapas de crianças nascidas de cesariana, por exemplo, prática extremamente comum no Brasil, mostram-se perfeitamente válidos e funcionais.
Na Figura 6, o gráfico mostra o efeito combinado da hereditariedade planetária. No eixo horizontal, a posição dos planetas e da Lua em 18 setores , no momento do nascimento. No eixo vertical, as freqüências observada e esperada para os cinco corpos celestes. A marca do zero corresponde à freqüência esperada ou teórica. Na Figura 7, uma comparação entre os dois padrões: profissões e hereditariedade. Na curva de cima, a distribuição combinada para Marte, Júpiter, Saturno e Lua no nascimento de profissionais bem-sucedidos. A curva inferior mostra a distribuição combinada de Marte, Júpiter, Saturno, Vênus e Lua no nascimento de crianças cujos pais nasceram com o mesmo planeta nos setores-chave.
O Difícil Diálogo com a Ciência
Gauquelin sempre publicou os resultados de suas pesquisas com todos os detalhes metodológicos, conforme as normas acadêmicas, esperando assim que o trabalho fosse lido e comentado pelos cientistas. Ledo engano. O tema em si trazia um estigma que simplesmente horrorizava o meio acadêmico.
Astrologia? Nem pensar. É superstição e ponto final. Para que perder tempo examinando experimentos que tratam de tamanha bobagem? Esqueça. Jean Rostand, um acadêmico francês, chegou a declarar que se a estatística demonstrara a veracidade da astrologia, então ele não acreditava mais na estatística!
De nada adiantava enviar os resultados de sua elaborada pesquisa estatística para as sábias otoridades da ciência ortodoxa. Ninguém dava a mínima. Não respondiam ou alegavam não ter tempo. Mas a obstinação de Gauquelin fez com que ele não parasse de insistir. O Comitê Belga de Investigação Científica de Fenômenos Ditos Paranormais, cujo lema era “Nada negue a priori, nada afirme sem prova” respondeu dizendo que “…é claro que os destinos humanos dependem de fatores humanos e não astrais”. E ponto final. Nem todos, porém, o desprezaram. O estatístico Jean Porte examinou os dados e, apesar de não aceitar a “influência astral”, reconheceu a validade do trabalho e disse não ter encontrado nenhum erro. Depois disso, Jean Dath, do próprio Comitê Belga, diria a mesma coisa sobre o método estatístico, mas, juntamente com seus pares, não estava convencido de que aquilo pudesse ser verdadeiro. Também não quiseram reproduzir o trabalho.
Passados cinco anos, Gauquelin voltou a procurar o Comitê Belga. Agora propôs a reprodução do experimento com um novo grupo de esportistas campeões belgas e franceses. Esperava, como das outras vezes, uma freqüência significativamente mais alta de Marte nos setores-chave. O comitê aceitou e de fato realizou a pesquisa nas condições propostas por Gauquelin. O resultado foi positivo. A amostra com 535 campeões confirmava as observações anteriores do psicólogo e estatístico francês (ver Figura 8). Só que agora Jean Dath colocava em dúvida o método de Gauquelin, o que não fizera antes. As discussões se arrastaram e, sintomaticamente, o tal Comitê acabou não publicando os resultados. O Professor Koenigsfeld, presidente do Comitê, teria escrito numa carta a um colega pesquisador: “De fato, verificamos os cálculos do sr. Gauquelin e concordamos com eles… Mas não concordamos com suas conclusões, que não podemos aceitar.” Interessante… não podemos aceitar.
[fig 8]
Nem tudo foi decepção. Em 1975, ninguém menos que o psicólogo Hans Eysenck, da Universidade de Londres, assim elogiou o trabalho de Gauquelin: “Acho que em termos de objetividade de observação, significância estatística das diferenças, verificação da hipótese e reprodutibilidade, há poucos conjuntos de dados na psicologia que podem competir com essas observações”. Era um grande aliado. Em 1976, os dois submeteram um artigo ao XXI Congresso Internacional de Psicologia, sediado em Paris, mas o trabalho não foi aceito. Era o estigma novamente.
Naquele mesmo ano de 1975, além do famoso, autoritário e infantil manifesto anti-astrológico assinado por 186 cientistas, que na verdade nem sabiam direito o que estavam fazendo, publicava-se um artigo na revista Humanist criticando duramente o trabalho de Gauquelin. O estatístico Marvin Zelen, a pedido do editor da revista, comentou que os argumentos matemáticos do autor do artigo, um tal Lawrence Jerome, eram insignificantes, e propôs ele mesmo um experimento para verificar a validade do efeito Marte. Feito o teste, pela enésima vez o resultado confirmava o nosso incansável herói. Então estava tudo certo? Não! Depois disso, Paul Kurtz, o editor da Humanist, Zelen e o astrônomo George Abell escreveram um artigo em que manipulam espertamente os dados e ainda põem em dúvida a honestidade de Gauquelin. Uma professora de estatística escreveu uma nota para a revista, criticando os erros do artigo. A nota nunca foi publicada.
Em 1976, o mesmo Paul Kurtz anunciava a criação do infame e teratológico CSICOP ou Comitê de Investigação Científica das Alegações de Paranormalidade, que de científico não tinha absolutamente NADA. Tratava-se apenas de um clubinho de indivíduos, predominantemente machos, que odiavam fenômenos paranormais, religião, astrologia, esoterismo, misticismo, enfim, tudo que não fosse ortodoxia cientificista. E para “provar” que estavam certos e que detinham a posse da verdade inconteste, eram capazes de qualquer coisa. O impagável Paul Kurtz chegou mesmo a adulterar dados para “derrotar” Gauquelin. O ridículo e lamentável episódio ficou conhecido como O Caso STARBABY, que será tema de um artigo futuro. Interessante é que os céticos não contam essa história quando resolvem espinafrar a astrologia.
Conclusão
Apresentamos apenas uma visão geral do trabalho de Michel Gauquelin, uma verdadeira saga de quase 40 anos de pesquisa, infelizmente pouco reconhecida. Gauquelin enfrentou o preconceito tanto da comunidade acadêmica, por razões óbvias, quanto da comunidade astrológica, esta por falta de preparo científico e com a visão embaçada de magia, ocultismo e esoterismo. Se em muitas ocasiões Gauquelin interpretou mal a astrologia, a culpa foi mais dos astrólogos, que até então praticamente não haviam renovado os conceitos astrológicos, contentando-se em repetir os ecos da tradição, sem a necessária visão crítica. A astrologia parecia um dinossauro extemporâneo, insistindo numa terminologia arcaica e no pensamento mágico pré-científico, sem se preocupar com o método científico moderno, como se o tempo houvesse parado.
Gauquelin não provou que a astrologia funciona, como querem alguns astrólogos, nem tampouco que não funciona, segundo afirmam os céticos de carteirinha. É muito comum depararmos com leituras tendenciosas e superficiais da obra desse grande pesquisador. Os vieses parecem alimentar posições rígidas de ambos os lados. Portanto, é preciso ter cuidado. Seus experimentos são muito importantes para a astrologia, contanto que sejam minuciosamente examinados, analisados e possam assim contribuir para a elaboração de trabalhos mais bem orientados. O desenvolvimento de métodos de leitura mais ordenados e uma revisão profunda do que realmente significa a correlação entre o mapa astrológico e as diferenças individuais de personalidade, bem como fenômenos de outra natureza, é uma tarefa urgente para de fato entendermos a essência do fenômeno astrológico e projetarmos novos experimentos com o devido rigor científico.
Texto original do colega Mauro Silva
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Bibliografia
- De Francisco, Walter. Estatística. Ed. Atlas, 1982.
- Eysenck, H.J. e Nias, D.K.B. Astrology: Science or Superstition? [Cap 10]. Pelican Books, 1984.
- Fuzeau-Braesch, Suzel. A Astrologia [Cap 5]. Jorge Zahar Editor, 1990.
- Gauquelin, Michel. Birthtimes: A Scientific Investigation of the Secrets of Astrology. Hill and Wang, 1983.
- Gauquelin, Michel. The Cosmic Clocks. Astro Computing Services, 1982.
- Gauquelin, Michel. Cosmic Influences on Human Behavior. Aurora Press, 1985.
- Gauquelin, Michel. A Cosmopsicologia. Edições Ática, 1978.
- Gauquelin, Michel. Planetary Heredity. ACS Publications, Inc., 1988.
- Gauquelin, Michel. Rythmes Biologiques, Rythmes Cosmiques. Marabout, 1973.
- Gauquelin, Michel. The Scientific Basis of Astrology. Stein and Day, 1970.
- Glasnapp, D.R. e Poggio, J.P. Essentials of Statistical Analysis for the Behavioral Sciences. Charles E. Merrill Pub. Company, 1985.
- West, John Anthony. Em Defesa da Astrologia [Cap 3]. Ed. Siciliano, 1992.
Fonte: http://www.deldebbio.com.br/2009/06/03/as-pesquisas-de-michel-gauquelin/
deldebbio | 3 de junho de 2009
Quando criança, Michel Gauquelin tinha um verdadeiro fascínio pela astrologia. Aos sete anos já sabia dizer qual o signo solar dos seus colegas de escola, se estes lhe revelassem a data do nascimento. Aos dez aprendeu com o pai a calcular o Ascendente. E assim chegou à adolescência lendo, devorando livros de astrologia. Não admira que os colegas de escola o chamassem de Nostradamus. Mas o prestígio que obtivera junto às meninas compensava qualquer piadinha ou gozação dos meninos.
À medida, porém, que o jovem Michel amadurecia, dentro dele crescia a necessidade de provas e demonstrações científicas. Foi quando se lançou em busca de datas e horários de nascimento para verificar se eram verdadeiras ou falsas as alegações da tradição astrológica. Segundo suas próprias palavras, “O pouco dinheiro que eu tinha, gastava em selos nas cartas que escrevia para os muitos cartórios de registro da França, solicitando horários de nascimento”. Gauquelin tinha em mente uma pesquisa de natureza estatística e precisava reunir dados suficientes para chegar a uma conclusão válida. Os primeiros testes focalizaram o simbolismo zodiacal: a influência do zodíaco na escolha profissional e a hereditariedade entre pais e filhos. Os resultados foram publicados em 1955, no primeiro livro, L’Influence des Astres, após cinco anos de trabalho.
Além da pesquisa centrada no zodíaco, que não foi favorável à astrologia, embora, como veremos em outro artigo, seu planejamento tenha sido no mínimo discutível, outro experimento, que mostrava a distribuição no espaço dos planetas do sistema solar, mais o Sol e a Lua, obteve um extraordinário sucesso. Calcularam-se as posições desses corpos celestes no horário de nascimento de médicos eminentes da Academia de Medicina da França, num total de 576 profissionais, tendo como resultado uma interessante correlação. Dois anos depois, repetiu-se o mesmo tipo de experiência, dessa vez com outros 508 médicos, e novamente as correlações se confirmaram. A grande “descoberta” foi que, dividindo a esfera celeste em doze setores, os planetas Marte e Saturno, e só eles, apareciam com maior freqüência próximo ao nascer (surgimento no horizonte) e à culminação superior (passagem pelo meridiano local) no horário em que os futuros médicos vieram ao mundo. Essa freqüência em dois dos setores demarcados superava em muito o que seria o esperado numa distribuição aleatória. O resultado, como veremos no segmento que explica a experiência, mostrava-se estatisticamente muito significativo, ou seja, a probabilidade de que esses dados fossem obra do acaso era remotíssima.
Outras profissões também foram avaliadas em relação aos planetas. Correlações significativas surgiram igualmente no nascer e na culminação de Marte para atletas, de Júpiter para atores e políticos, de Saturno para cientistas e da Lua para escritores e também para políticos. Entre 1956 e 1958, Gauquelin reproduziu o mesmo procedimento com amostras de outros países europeus: Alemanha, Bélgica, Holanda e Itália. Mais uma vez observou o mesmo efeito, os mesmos planetas apareciam com freqüência bem maior do que o normal nas proximidades do horizonte leste e da culminação superior no momento em que nasciam indivíduos que, no futuro, viriam a ser profissionais bem-sucedidos numa área específica. Havia também um pequeno aumento da freqüência próximo ao ocaso e à culminação inferior. Os outros planetas do sistema solar, bem como o próprio Sol, componentes fundamentais da análise astrológica, não apresentaram correlação com nenhuma das profissões pesquisadas. Em 1960, Gauquelin publica Les Hommes et Les Astres, apresentando todos esses novos resultados.
Continuando a pesquisa, em 1966 ele publica o livro L’Hérédité Planetaire, mais um marco em sua carreira. Aqui são comparadas as posições dos astros na hora de nascimento de pais e filhos, segundo o mesmo método de divisão da esfera diurna utilizado para as profissões. Os planetas que ocupam a região em torno do nascer e da culminação superior no momento em que nascem os pais tendem a reproduzir essas posições no caso dos filhos. Estatisticamente, os valores novamente são muito significativos e o efeito planetário na hereditariedade vem reforçar o significado das experiências anteriores. Desta vez, o planeta Vênus também aparece como significativo nas correlações. Gauquelin ainda encontraria uma outra correlação interessante: entre a atividade geomagnética e a intensidade do efeito planetário na hereditariedade em termos de casos positivos. De acordo com os cálculos efetuados, o efeito planetário era aproximadamente duas vezes mais forte quando a criança nascia em dias de maior perturbação magnética, ou seja, as correlações envolvendo pais e filhos eram mais freqüentes nesses dias. E se o parto (dos filhos) fosse por cesariana em vez de normal, a correlação diminuía sensivelmente.
No final da década de 60, Gauquelin deu um novo rumo a suas pesquisas. Os resultados de duas décadas de trabalho pareciam apontar numa direção bem mais promissora. Melhor do que relacionar profissões com planetas seria vincular esses corpos celestes com traços de personalidade típicos de pessoas que são bem-sucedidas numa determinada carreira. Afastava-se, assim, a incômoda idéia de destino, do “estar escrito nas estrelas”, que dava lugar a predisposições de natureza psicológica. Para alguém ter êxito numa profissão, e a pesquisa de Gauquelin nesse sentido só encontrou correlações estatisticamente válidas nos profissionais de alto nível, naqueles que atingiram o topo da carreira, é preciso possuir certas características praticamente indispensáveis a um desempenho competente no ofício. Por exemplo: executivos devem ter iniciativa e dinamismo (Marte), cientistas precisam ser disciplinados e introspectivos (Saturno), atores via de regra são extrovertidos (Júpiter), e assim por diante.
Antes de examinarmos com mais detalhes esta última etapa do trabalho de Michel Gauquelin, sem dúvida a mais importante, explicaremos alguns conceitos de astronomia necessários ao entendimento da metodologia utilizada. Depois poderemos apresentar a elaboração dos experimentos e, em seguida, qual o impacto que os resultados tiveram na comunidade científica, se é que houve algum.
O Movimento Diurno
Devido à rotação da Terra sobre seu próprio eixo, um observador pode ver, no céu, o Sol, a Lua, os planetas e as estrelas descreverem uma trajetória na esfera celeste, cujo tempo aproximado é de 24 horas. Esse movimento segue no sentido do leste para o oeste, já que nosso planeta gira no sentido contrário. Na Figura 1, Gauquelin dá um exemplo do movimento diurno de Marte para o dia 24 de maio de 1956, em Paris. Nesse dia, o planeta vermelho nasceu, isto é, surgiu no horizonte leste, à 0h44, culminou às 5h33 e se pôs no horizonte oeste às 10h22.
Vemos nessa figura dois grandes círculos perpendiculares que são o horizonte e o meridiano do lugar. O movimento de Marte é marcado pelo círculo ABCDA. O ponto A assinala o momento em que este corpo celeste aparece no horizonte leste, portanto quando cruza a linha do horizonte, à 0h44. Continuando sua trajetória, ele se eleva no céu, com uma certa inclinação, até atingir a culminação, ou seja, seu ponto mais alto na esfera celeste, o ponto B, às 5h33. Daí ele começa a descer, chegando ao ponto C, na intersecção com o horizonte oeste, às 10h22. A partir dessa posição, Marte segue abaixo do horizonte até alcançar o ponto D, onde cruza o meridiano em sua culminação inferior, localizada a 180 graus da culminação superior. Desse ponto ele voltará para o ponto A, nascendo novamente. Softwares de astronomia ou de astrologia fornecem a posição dos demais planetas, além do Sol e da Lua, entre o horizonte e o meridiano para um determinado momento. Assim, pode-se fazer um estudo de correlação envolvendo todos eles.
O que interessava a Gauquelin era justamente determinar a posição de um planeta, do Sol e da Lua no momento em que uma pessoa nascesse. Para fazer um cálculo estatístico da freqüência de nascimentos nas diversas posições possíveis, era preciso dividir o círculo do movimento diurno em partes iguais. Desta maneira, são computados separadamente todos os nascimentos ocorridos
O número de médicos nascidos no momento em que Marte e Saturno ocupavam os setores 1 e 4 era maior que 16,7% da amostra, indicando uma “preferência” pela proximidade com o Ascendente e o Meio-do-Céu, os dois pontos mais importantes de uma carta astrológica.
quando um planeta estava numa determinada região da esfera celeste. Assim, seguindo com o exemplo de Marte, o movimento diurno deste planeta é dividido em 12 partes ou setores. Não confundir esta divisão com a divisão astrológica das Casas Terrestres, embora as posições do Ascendente e do Meio-do-Céu (culminação superior) sejam as mesmas. Futuramente, Gauquelin adotaria o sistema de Casas astrológicas de Plácido.
Na Figura 2, vemos que Marte esteve acima do horizonte durante 9 horas e 38 minutos (578 minutos). Logo, permaneceu abaixo do horizonte por 862 minutos, num total de 1440 minutos, ou seja, 24 horas. Dividiu-se então o arco diurno do planeta em seis setores iguais, cada um com 96 minutos de arco; o mesmo para o arco noturno, cada setor com 144 minutos de arco. Numerados os setores de 1 a 12, o primeiro começa exatamente ao nascer à 0h44, o segundo às 2h20, depois passando pela culminação às 5h33, pelo ocaso às 10h22, e assim sucessivamente. Se nesse dia uma pessoa nasceu à 1h10, Marte estava no setor 1, pouco acima do horizonte. Se o nascimento foi às 5h15, Marte aproximava-se da culminação superior, ainda no setor 3. O mesmo procedimento vale para a posição dos outros corpos celestes. Em amostras de alguns milhares de nascimentos, os planetas e os luminares estarão distribuídos entre esses setores, ocupando cada um deles com uma determinada freqüência.
Procedimentos Experimentais
Teoricamente, espera-se que cada corpo celeste, ou operador celeste astrológico, passe um dozeavos (8,33%) do tempo em cada setor, embora existam variáveis astronômicas e demográficas, devidamente controladas nas pesquisas de Gauquelin, que alteram um pouco esse valor, daí a necessidade de um grupo de controle, tomado aleatoriamente e formado por indivíduos que nasceram no mesmo intervalo de tempo e na mesma região das pessoas que compõem a amostra. Assim é possível conhecer a distribuição média e compará-la com o resultado obtido. Se a distribuição dos nascimentos pesquisados estiver dentro dessa média, portanto com um número praticamente igual de nascimentos em cada setor, então não há problema nenhum, trata-se de uma distribuição aleatória. É o que deve acontecer. Ou pelo menos deveria. Para analisar estatisticamente as amostras, Gauquelin utilizou o teste do qui-quadrado, uma medida que compara freqüências observadas com freqüências teoricamente esperadas e indica a extensão da discrepância entre os dois conjuntos de dados, e a distribuição normal padronizada (z score), que dá a distância relativa da média em unidades de desvio padrão
Essa distribuição, ou seja, quantas vezes um planeta encontra-se presente num certo setor para uma determinada amostra, pode revelar se existe de fato uma correlação estatisticamente significativa entre a posição do planeta e a natureza específica de um conjunto de nascimentos. Como já dissemos, o primeiro experimento bem-sucedido do casal Gauquelin foi com a amostra que reunia o horário de nascimento de 576 médicos ilustres. O número de médicos nascidos no momento em que Marte e Saturno ocupavam os setores 1 e 4, ou seja, quando estes planetas se elevavam no horizonte leste ou pouco depois de cruzarem o meridiano do lugar, era maior que 16,7% da amostra, indicando uma “preferência” pela proximidade com o Ascendente e o Meio-do-Céu, os dois pontos mais importantes de uma carta astrológica. A freqüência encontrada era bastante significativa. Sendo a amostra relativamente grande – 576 indivíduos -, o resultado era altamente improvável se atribuído ao acaso.
Gauquelin repetiu o experimento com outra amostra, desta vez com 508 médicos ilustres, uma quantidade também adequada para fins estatísticos. O resultado novamente confirmou uma freqüência bastante significativa de nascimentos quando Marte e Saturno ocupavam os setores 1 e 4, que mais tarde passariam a ser chamados de setores-chave.
A associação encontrada por Gauquelin entre medicina e os planetas Marte e Saturno corrobora os significados tradicionais que a astrologia atribui a esses dois planetas ao vinculá-los, especialmente no caso de Marte, à medicina e aos médicos. As observações empíricas dos antigos já detectavam uma correlação que só no século XX viria a ser redescoberta, embora a ciência oficial continue com seus ataques histéricos contra a astrologia.
Sendo ele um pesquisador sério e honesto, qualidades nem sempre aplicáveis a seus detratores, Gauquelin sabia que deveria continuar repetindo essas experiências para assegurar-se da validade do fenômeno. Pois tudo poderia não passar de uma combinação fortuita. Depois de muitos malogros, alguma vez ele poderia fatalmente sair com um resultado positivo – apenas por acaso. Assim, seguiu em frente, agora recolhendo dados de nascimento de franceses que se destacaram nos esportes, na política, na guerra, enfim, nas mais diversas atividades. As informações sobre cada pessoa, ele as obtinha de dicionários biográficos; o horário de nascimento, de cartórios de registro.
Mais uma vez, alguns planetas confirmavam seus significados tradicionais. Aqueles mesmos setores – às vezes também outros, quando se dividia o movimento diurno em 18 ou 36 setores – apresentavam uma freqüência maior que a esperada, e agora Gauquelin chegava a resultados ainda mais impressionantes, principalmente naquilo que ficou conhecido como o Efeito Marte e sua altíssima freqüência no caso de esportistas eminentes. Em um dos experimentos, para uma freqüência esperada de 253 nascimentos nos setores-chave, ou zona de acréscimo, como ele a chamou, a freqüência observada foi de 327 nascimentos, numa amostra de 1485 campeões. Dado o tamanho da amostra, a diferença em relação à freqüência teórica, mesmo sendo relativamente pequena torna-se extremamente significativa. Aqui temos um desvio de 29,2% para mais. A probabilidade do resultado ser obra do acaso é de menos de 1 para 1 milhão!
Na Figura 3, uma representação gráfica circular da distribuição de Marte no horário de nascimento de 2088 esportistas campeões. O círculo representa a distribuição teórica; a linha contínua, as posições de Marte; e a linha tracejada, a distribuição para Marte no nascimento de 717 esportistas comuns. Observa-se que a linha contínua apresenta picos pouco depois do nascer e da culminação superior. Para os esportistas medianos, porém, o padrão desaparece. Sistematicamente, Gauquelin constatou que esse resultado estatístico significativo só ocorria entre profissionais eminentes. Antes de apresentarmos a explicação que ele encontrou para essa discrepância, vejamos mais alguns gráficos de distribuição planetária.
A Figura 4 mostra as posições de Saturno para 3647 cientistas (linha contínua) e 5100 artistas (linha tracejada) . O planeta tradicionalmente associado à introspecção, disciplina, introversão, concentração, aparece com muito mais freqüência pouco depois do nascer e da culminação superior na amostra de cientistas. Ao contrário, entre os artistas, é como se ele evitasse essas posições e ali sua freqüência caísse abaixo da média esperada, representada pelo círculo.
Na Figura 5 podemos ver a distribuição de Júpiter para uma amostra de 993 políticos. O círculo tracejado corresponde ao resultado teórico de um grupo de controle. O mesmo padrão se repete. Na astrologia, esse planeta encerra características como extroversão, otimismo, sociabilidade, ambição, etc.
Traços de Personalidade
No começo da década de 60, houve um redirecionamento no trabalho de Gauquelin. Em vez de planetas e profissões, ele percebeu que existia uma relação subjacente mais efetiva, agora entre planetas e traços de personalidade. Esta nova relação podia explicar por que um padrão de distribuição recorrente só aparecia em amostras de profissionais de alto nível e não em pessoas comuns, medianas. Pessoas bem-sucedidas costumam apresentar certos traços de personalidade bem acentuados, o que justamente lhes permite destacar-se entre os demais. Aqueles estranhos resultados, que sugeriam algo como um destino estabelecido pelos planetas, talvez não fossem tão estranhos assim. Talvez estivessem indicando um certo tipo de comportamento associado ao desempenho em determinadas profissões. Assim, o planeta nada tinha a ver com esta ou aquela profissão, mas com certas características da personalidade de um indivíduo.
Assim, pessoas mais agressivas, bastante determinadas, preocupadas com a auto-afirmação, competitivas, que prontamente tomavam iniciativas teriam mais chance de se destacar em carreiras que exigissem atitudes dessa natureza: militares, executivos, atletas. Neste caso, pode-se dizer que predomina Marte nos setores 1 e 4 (na divisão por doze). Se predominar a Lua, os profissionais lunares serão escritores e/ou políticos: imaginação, sensibilidade, flexibilidade, popularidade são, entre outros, os traços que definem a natureza do nosso satélite. O mesmo acontece com Saturno e Júpiter e seus respectivos traços.
Para fundamentar sua hipótese – que a posição de um planeta no momento e local de nascimento está relacionada a determinados tipos de personalidade -, Gauquelin utilizou as informações biográficas dos profissionais eminentes cujos dados de nascimento ele já tinha em mãos. Partindo, portanto, de descrições elaboradas por terceiros, ele extraía do texto palavras que o autor usava para caracterizar a personalidade ou o comportamento do biografado. Termos como passional, sério, obstinado, agressivo eram exemplos de traços de personalidade que serviam para tipificar determinada pessoa. Consultando várias fontes, Gauquelin abria uma ficha para cada traço, e numa mesma linha escrevia o nome da celebridade e as posições dos planetas no nascimento.
Não é difícil imaginar o imenso trabalho envolvido numa pesquisa de tal magnitude. Durante dez anos, Gauquelin, a esposa Françoise e uma equipe de pesquisadores juntaram mais de 5.000 documentos biográficos de cerca de 2.000 pessoas famosas, num total de 6.000 traços para esportistas campeões, 10.000 para cientistas, 18.000 para atores e 16.000 para escritores. No começo, os dados eram tratados manualmente, mas depois puderam contar com os recursos da Astro Computing Services, em San Diego, Califórnia. Entre 1973 e 1977 foi publicada uma série de monografias com a análise final de todos os dados da pesquisa.
Para deixar bem claro que o que estava em jogo era uma correlação entre planetas e traços de personalidade, e não profissões, comparou-se o perfil de um profissional com os traços típicos de sua profissão – no caso, esportistas campeões, atores, cientistas e escritores – com o de outros que apresentavam um antiperfil. Em nascimentos de campeões bastante obstinados e de vontade férrea, Marte aparecia com freqüência duas vezes maior nos setores-chave do que no caso de campeões pouco determinados e inseguros. Atores muito sociáveis nasciam com Júpiter muito mais freqüente nos setores-chave do que aqueles menos comunicativos. Cientistas introspectivos nasciam em maior número quando Saturno se posicionava próximo ao nascer e à culminação superior do que cientistas mais extrovertidos. E, finalmente, a Lua comparecia maior número de vezes aos setores mencionados para os escritores realmente sensíveis e imaginativos.
Surgiam, portanto, quatro fatores planetários que de algum modo funcionavam como determinantes da personalidade; e o que é mais importante, esse tipos planetários reproduziam os significados da tradição astrológica. As observações dos antigos, conquanto empíricas e sem a sofisticação do método científico moderno, mostravam-se corretas. Para os astrólogos, é claro que não havia nenhuma surpresa. Há séculos que esses corpos celestes eram vistos como vinculados a certos temperamentos. E havia também os outros planetas e mais o Sol, para os quais Gauquelin não encontrou as evidências necessárias.
Pais e Filhos
Vencidas as dificuldades para obter os dados de nascimento de mais de 30.000 indivíduos, incluindo pais e filhos, passou-se para o cálculo das posições planetárias. Confirmou-se que os filhos apresentam a tendência a nascer no momento em que um determinado planeta, posicionado no nascer e na culminação superior, também ocupasse essa mesma região do espaço no nascimento de seus pais. As semelhanças valiam tanto para o pai quanto para a mãe. Se ambos nascessem com o mesmo planeta nas zonas 1 e 4, duplicava a tendência do filho acompanhar o padrão. A probabilidade de que a correlação fosse obra do acaso era de menos de 1 para 1 milhão. Onze anos depois, Gauquelin repetiu o experimento e novamente obteve resultados igualmente significativos. Não foram observadas correlações significativas para Mercúrio, Urano, Netuno e Plutão, e nem para o Sol.
Finalmente, Gauquelin observou que esse efeito de hereditariedade planetária não se manifestava quando a criança nascia de parto cirúrgico, ou se o nascimento de algum modo era induzido por meio de medicamentos apropriados. Vale dizer que apesar dessa constatação, a experiência astrológica, utilizando o mapa natal como um todo, não tem verificado nenhuma diferença nesse sentido. Os mapas de crianças nascidas de cesariana, por exemplo, prática extremamente comum no Brasil, mostram-se perfeitamente válidos e funcionais.
Na Figura 6, o gráfico mostra o efeito combinado da hereditariedade planetária. No eixo horizontal, a posição dos planetas e da Lua em 18 setores , no momento do nascimento. No eixo vertical, as freqüências observada e esperada para os cinco corpos celestes. A marca do zero corresponde à freqüência esperada ou teórica. Na Figura 7, uma comparação entre os dois padrões: profissões e hereditariedade. Na curva de cima, a distribuição combinada para Marte, Júpiter, Saturno e Lua no nascimento de profissionais bem-sucedidos. A curva inferior mostra a distribuição combinada de Marte, Júpiter, Saturno, Vênus e Lua no nascimento de crianças cujos pais nasceram com o mesmo planeta nos setores-chave.
O Difícil Diálogo com a Ciência
Gauquelin sempre publicou os resultados de suas pesquisas com todos os detalhes metodológicos, conforme as normas acadêmicas, esperando assim que o trabalho fosse lido e comentado pelos cientistas. Ledo engano. O tema em si trazia um estigma que simplesmente horrorizava o meio acadêmico.
Astrologia? Nem pensar. É superstição e ponto final. Para que perder tempo examinando experimentos que tratam de tamanha bobagem? Esqueça. Jean Rostand, um acadêmico francês, chegou a declarar que se a estatística demonstrara a veracidade da astrologia, então ele não acreditava mais na estatística!
De nada adiantava enviar os resultados de sua elaborada pesquisa estatística para as sábias otoridades da ciência ortodoxa. Ninguém dava a mínima. Não respondiam ou alegavam não ter tempo. Mas a obstinação de Gauquelin fez com que ele não parasse de insistir. O Comitê Belga de Investigação Científica de Fenômenos Ditos Paranormais, cujo lema era “Nada negue a priori, nada afirme sem prova” respondeu dizendo que “…é claro que os destinos humanos dependem de fatores humanos e não astrais”. E ponto final. Nem todos, porém, o desprezaram. O estatístico Jean Porte examinou os dados e, apesar de não aceitar a “influência astral”, reconheceu a validade do trabalho e disse não ter encontrado nenhum erro. Depois disso, Jean Dath, do próprio Comitê Belga, diria a mesma coisa sobre o método estatístico, mas, juntamente com seus pares, não estava convencido de que aquilo pudesse ser verdadeiro. Também não quiseram reproduzir o trabalho.
Passados cinco anos, Gauquelin voltou a procurar o Comitê Belga. Agora propôs a reprodução do experimento com um novo grupo de esportistas campeões belgas e franceses. Esperava, como das outras vezes, uma freqüência significativamente mais alta de Marte nos setores-chave. O comitê aceitou e de fato realizou a pesquisa nas condições propostas por Gauquelin. O resultado foi positivo. A amostra com 535 campeões confirmava as observações anteriores do psicólogo e estatístico francês (ver Figura 8). Só que agora Jean Dath colocava em dúvida o método de Gauquelin, o que não fizera antes. As discussões se arrastaram e, sintomaticamente, o tal Comitê acabou não publicando os resultados. O Professor Koenigsfeld, presidente do Comitê, teria escrito numa carta a um colega pesquisador: “De fato, verificamos os cálculos do sr. Gauquelin e concordamos com eles… Mas não concordamos com suas conclusões, que não podemos aceitar.” Interessante… não podemos aceitar.
[fig 8]
Nem tudo foi decepção. Em 1975, ninguém menos que o psicólogo Hans Eysenck, da Universidade de Londres, assim elogiou o trabalho de Gauquelin: “Acho que em termos de objetividade de observação, significância estatística das diferenças, verificação da hipótese e reprodutibilidade, há poucos conjuntos de dados na psicologia que podem competir com essas observações”. Era um grande aliado. Em 1976, os dois submeteram um artigo ao XXI Congresso Internacional de Psicologia, sediado em Paris, mas o trabalho não foi aceito. Era o estigma novamente.
Naquele mesmo ano de 1975, além do famoso, autoritário e infantil manifesto anti-astrológico assinado por 186 cientistas, que na verdade nem sabiam direito o que estavam fazendo, publicava-se um artigo na revista Humanist criticando duramente o trabalho de Gauquelin. O estatístico Marvin Zelen, a pedido do editor da revista, comentou que os argumentos matemáticos do autor do artigo, um tal Lawrence Jerome, eram insignificantes, e propôs ele mesmo um experimento para verificar a validade do efeito Marte. Feito o teste, pela enésima vez o resultado confirmava o nosso incansável herói. Então estava tudo certo? Não! Depois disso, Paul Kurtz, o editor da Humanist, Zelen e o astrônomo George Abell escreveram um artigo em que manipulam espertamente os dados e ainda põem em dúvida a honestidade de Gauquelin. Uma professora de estatística escreveu uma nota para a revista, criticando os erros do artigo. A nota nunca foi publicada.
Em 1976, o mesmo Paul Kurtz anunciava a criação do infame e teratológico CSICOP ou Comitê de Investigação Científica das Alegações de Paranormalidade, que de científico não tinha absolutamente NADA. Tratava-se apenas de um clubinho de indivíduos, predominantemente machos, que odiavam fenômenos paranormais, religião, astrologia, esoterismo, misticismo, enfim, tudo que não fosse ortodoxia cientificista. E para “provar” que estavam certos e que detinham a posse da verdade inconteste, eram capazes de qualquer coisa. O impagável Paul Kurtz chegou mesmo a adulterar dados para “derrotar” Gauquelin. O ridículo e lamentável episódio ficou conhecido como O Caso STARBABY, que será tema de um artigo futuro. Interessante é que os céticos não contam essa história quando resolvem espinafrar a astrologia.
Conclusão
Apresentamos apenas uma visão geral do trabalho de Michel Gauquelin, uma verdadeira saga de quase 40 anos de pesquisa, infelizmente pouco reconhecida. Gauquelin enfrentou o preconceito tanto da comunidade acadêmica, por razões óbvias, quanto da comunidade astrológica, esta por falta de preparo científico e com a visão embaçada de magia, ocultismo e esoterismo. Se em muitas ocasiões Gauquelin interpretou mal a astrologia, a culpa foi mais dos astrólogos, que até então praticamente não haviam renovado os conceitos astrológicos, contentando-se em repetir os ecos da tradição, sem a necessária visão crítica. A astrologia parecia um dinossauro extemporâneo, insistindo numa terminologia arcaica e no pensamento mágico pré-científico, sem se preocupar com o método científico moderno, como se o tempo houvesse parado.
Gauquelin não provou que a astrologia funciona, como querem alguns astrólogos, nem tampouco que não funciona, segundo afirmam os céticos de carteirinha. É muito comum depararmos com leituras tendenciosas e superficiais da obra desse grande pesquisador. Os vieses parecem alimentar posições rígidas de ambos os lados. Portanto, é preciso ter cuidado. Seus experimentos são muito importantes para a astrologia, contanto que sejam minuciosamente examinados, analisados e possam assim contribuir para a elaboração de trabalhos mais bem orientados. O desenvolvimento de métodos de leitura mais ordenados e uma revisão profunda do que realmente significa a correlação entre o mapa astrológico e as diferenças individuais de personalidade, bem como fenômenos de outra natureza, é uma tarefa urgente para de fato entendermos a essência do fenômeno astrológico e projetarmos novos experimentos com o devido rigor científico.
Texto original do colega Mauro Silva
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Bibliografia
- De Francisco, Walter. Estatística. Ed. Atlas, 1982.
- Eysenck, H.J. e Nias, D.K.B. Astrology: Science or Superstition? [Cap 10]. Pelican Books, 1984.
- Fuzeau-Braesch, Suzel. A Astrologia [Cap 5]. Jorge Zahar Editor, 1990.
- Gauquelin, Michel. Birthtimes: A Scientific Investigation of the Secrets of Astrology. Hill and Wang, 1983.
- Gauquelin, Michel. The Cosmic Clocks. Astro Computing Services, 1982.
- Gauquelin, Michel. Cosmic Influences on Human Behavior. Aurora Press, 1985.
- Gauquelin, Michel. A Cosmopsicologia. Edições Ática, 1978.
- Gauquelin, Michel. Planetary Heredity. ACS Publications, Inc., 1988.
- Gauquelin, Michel. Rythmes Biologiques, Rythmes Cosmiques. Marabout, 1973.
- Gauquelin, Michel. The Scientific Basis of Astrology. Stein and Day, 1970.
- Glasnapp, D.R. e Poggio, J.P. Essentials of Statistical Analysis for the Behavioral Sciences. Charles E. Merrill Pub. Company, 1985.
- West, John Anthony. Em Defesa da Astrologia [Cap 3]. Ed. Siciliano, 1992.
Fonte: http://www.deldebbio.com.br/2009/06/03/as-pesquisas-de-michel-gauquelin/
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