Novos núcleos de gelo revelam 800 mil anos de história climática

Em 2004, cientistas liderados por Jean Jouzel, do Laboratório de Ciências Climáticas e Ambientais (LSCE), em Gif-sur-Yvette, na França, conseguiram retirar um pedaço do núcleo de gelo no centro da Antártida.




A 3.260 metros de profundidade, perfurar o núcleo de gelo foi uma maratona em um dos locais mais hostis e remotos da Terra. Apesar de não ser o núcleo mais profundo já retirado da Antártida (o núcleo de Vostok chegou a 3.263 metros), seu gelo comprimido fornece o registro climático polar mais antigo, retrocedendo 800 mil anos.

A mensuração do deutério, uma das formas do elemento hidrogênio, permitiu à equipe remontar os registros da temperatura no gelo antigo. O novo registro climático abrange um novo ciclo de mudanças glaciais, equivalendo a 11 ciclos ao todo, afirma Jouzel, principal autor.

Ligando as informações de todo o núcleo com modelos atmosféricos, os cientistas puderam reconstruir um registro confiável das temperaturas dos últimos 800 mil anos. Na revista Science online, a equipe demonstrou que o período mais frio ocorreu há cerca de 20 mil anos, durante o último máximo glacial, quando a cobertura de gelo atingiu seu pico. A temperatura era cerca de 10 graus Celsius inferior a atual.

O momento mais quente ocorreu durante o período interglacial, que é um intervalo de temperaturas médias mais quentes entre as eras glaciais. Naquele período, há cerca de 130 mil anos, a temperatura era cerca de 4.5 graus Celsius mais quente que hoje.

Eventos globais – Muitas das mudanças apresentadas nos núcleos equivalem a eventos climáticos globais. “Pudemos correlacionar os registros com as mudanças ocorridas na Groelândia”, explica Jouzel.

Os cientistas planejam perfurar ainda mais fundo, com a esperança de alcançar um registro climático da Antártida de um milhão de anos. “Agora estamos nos direcionando a outras regiões da Antártida, onde a acumulação de neve é ainda menor”, diz.

Mas algumas pessoas não acreditam que o gelo antigo guarde alguma história a contar.

“Estamos chegando a um limite de quão longe os núcleo de gelo podem nos levar”, afirma Martin Siegert, glaciólogo da Universidade de Edinburgh. “Pode haver gelo com um milhão de anos, mas será que haverá um registro real sobre ele?”, questiona.

Ele sugere que alguns lagos sub-glaciais podem guardar o segredo. “O registro do fundo do lago começa onde termina o registro do núcleo de gelo. É hora de olhar além do gelo”, adverte. (CarbonoBrasil)

Origem do Texto: http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2007/07/07/32220-novos-nucleos-de-gelo-revelam-800-mil-anos-de-historia-climatica.html

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